sábado, 22 de outubro de 2011

Andar de avião - experiências

Ao longo da vida viajei poucas vezes de avião (15 no total) e desta última vez descobri que não gosto muito da experiência. A começar pelos aeroportos. Já perceberam o ambiente dos aeroportos? Algo ali não está bem.

Na última vez que viajei a coisa começou a correr menos bem logo no balcão de atendimento. Um homem que pertencia ao aeroporto  - embora não tivesse ficasse claro se era segurança ou se era o flirt da rapariga atrás do balcão já que com ela e com outro indivíduo ali tagarelava - viu-me aproximar a pedir informações e adoptou uma postura de gozo. Estive quase para demonstrar o meu desagrado pela falta de respeito do senhor, que até me chamou um nome menos agradável entre risadinhas, como se eu e ele já nos conhecêssemos de longa data.

Normalmente não me perco quando existe sinalização bem colocada, mas naquele dia a coisa não estava fácil. Talvez porque ainda era de madrugada e a iluminação era deficiente, não sei. O mal-educado ainda me disse, a gozar, que estava a fazer-me um favor e que eu não o enganava porque "tinha visto muito bem que eu havia passado à frente de todas as pessoas da fila". Que fila? - pensei eu. Decerto estranhei que a única fila existente estivesse um tanto afastada daquela balcão, mas como no bilhete vinha o número daquele, não me dirigi a outro. Tive o cuidado de contornar o cordão de segurança e entrar pela abertura, mesmo tendo visto um homem abrir a fita e passar directo sem a contornar. Até pensei que aquela zona ainda estava fechada ao atendimento, embora estranhasse isso acontecer em aeroportos. Mas como a zona estava cheia de cubículos mais vazios do que ocupados e era mal iluminada, se calhar tinham acabado de iniciar função.

Fazia algum tempo que não viajava e já não me recordava dos parâmetros. Esta experiência não veio ajudar a ficar com uma boa impressão. O homem observou-me enquanto me afastava e manteve o seu ar juncoso. Fiz questão de procurar a sinalética que ele indicou. De facto, muito depois daquele balcão e completamente fora de visão por se encontrar atrás de um grosso pilar, estava no chão um daqueles postes plásticos com um papel e uma seta. Não esperava algo tão deficiente e amador no principal aeroporto do país, mas enfim...


Primeira lição que tiro com esta experiência: As pessoas que trabalham em aeroportos são desconfiadas e preferem tratar primeiro com desrespeito e desconfiança os passageiros.


Retiro esta conclusão de todas as outras experiências que tive. Tirando a primeira vez, (antes do 11 de Setembro) em que vivi episódios singulares mas positivos de recordar, acho que tive sempre experiências estranhas em aeroportos ou aviões. Numa ocasião em Amesterdão quase vivi um desacato porque a pessoa que estava a fazer o check-in tratou o meu grupo como se fossemos hollygans. Fingiu não ouvir a nossa nacionalidade e pediu para a repetir-mos. Estranhou o nosso cartão de identidade. Não nos olhou na cara uma única vez e não respondeu ao nosso cumprimento inicial. Depois iamos para entrar no avião e manda-nos recuar, dizendo que estávamos a passar à frente dos passageiros que têm de entrar primeiro: os VIP. Foi grosseira e logo nos ameaçou de não nos deixar entrar no avião e obrigar-nos a ficar no aeroporto. Não hesitou em partir para a agressão e intimidação, o que me deixou atónita!

Fiquei tão mal impressionada que fiz a viagem toda em silêncio, mas notei os olhares fixos das hospedeiras de bordo, que me tomaram como desordeira. Logo eu, que sou tão pacífica! Fechei os olhos e quis dormir. Na hora de servir a refeição estava de olhos fechados mas mexi-me. Elas passaram por mim sem me tocar no ombro e perguntar se queria tomar alguma coisa. Não fui servida. A pesar de tentar aguentar até chegar ao destino, tive de me erguer para ir ao WC, e nessa altura os olhares das hospedeiras voltaram a cravar-se em mim e uma delas começou a andar na minha direcção, seguindo-me até o WC. Este episódio foi tão marcante que, chegada a casa comecei a escrever uma carta a narrar os acontecimentos e a condenar a atitude da tripulação, tanto em terra quanto em ar. Informei-me online e fui ao aeroporto entregar no balcão a carta de reclamação. Estava indignada!

A falta de educação e o desrespeito imediato pelas pessoas fez-me deduzir que a maioria dos funcionários de aeroporto perderam a noção de como se faz um bom atendimento ao cliente. Julgo que isso se deve porque têm tanto temor de terroristas, que perderam a noção que a todos devem tratar com respeito e cordialidade. Desconfiam logo dos actos e das pessoas, gozam, intimidam, ameaçam, como se todas as pessoas estivessem ali com más intenções.


Desta última vez em que viajei, constatei que o ambiente dentro do avião também mudou consideravelmente. Já viajava um tanto triste porque na viagem anterior tinha pedido um sumo de laranja à hospedeira quando esta os estava a distribuir, mas este não apareceu. Sou daqueles passageiros que não gostam de incomodar, pelo que fiz a viagem inteira cheia de sede. Muita sede! Não nos deixam levar garrafas de água connosco -pelo menos assim pensei, mas logo vi alguém a carregar uma. Só pensava que seria a primeira coisa que ia fazer ao sair do avião! Ainda por cima o ar condicionado estava tão forte, que mesmo tendo fechado todas as aberturas de ar à minha volta, sentia-me a congelar. Não foi uma viagem confortável mas nem chamei as hospedeiras ou estas vieram ter connosco a perguntar se precisávamos de algo. Quando pisei fora do avião, ah! O SOL!! O abraço caloroso do sol restituiu a energia de volta às células do corpo :)!


No regresso aconteceu o mesmo: o hospedeiro (um homem) passou por mim e eu lá disse: "Desculpe, se faz  favor..." mas ele não ouviu, acho eu, e achei isso tão estranho! Lá continuei com sede... Esta viagem foi também diferente por outros motivos: foi a primeira vez que os meus ouvidos reagiram à mudança de pressão, tendo vibrado bastante. E tive de lidar com comportamento das passageiras atrás de mim, um grupo de adolescentes italianas, barulhentas e irrequietas. Não paravam de dar pontapés e empurrões no meu assento. Falavam alto, puxavam o assento e eu estranhei muito este tipo de comportamento ser aceite dentro de um avião! Parecia mais uma creche! Podia jurar que a miúda atrás de mim estava numa de me pregar partidas, daquelas de mau gosto, porque sentia quando ela se levantava do assento e depois sentia algo tocar nos meus cabelos. Como se tivesse a atirar para cima de mim o conteúdo que a levava estar a "inspeccionar o interior do nariz com os dedos". Quando olhava para trás, ela parecia fingir-se de despercebida e dava muitas risadas com as colegas. Tal e qual uma adolescente que se elege a "palhaça" do grupo e as gracinhas são pregar partidas a outros, achando que isso a torna mais popular e especial.

Foi uma viagem estranha e eu só desejava que acabasse logo! Bem... decidi retaliar e pregar-lhe uma partida. Já que estava a ser tão desrespeitosa e os hospedeiros a bordo nada faziam para as acalmar, à terceira ou quarta vez em que a miúda enfiou o pé por entre a janela e o meu assento,  tocando-me no braço, decidi que merecia uma surpresa. E, com uma esferográfica, fiz-lhe um desenho na biqueira do ténis. Isto sim, uma brincadeira bem colocada, porque era merecida! Achei que ela não ia olhar para os pés até se descalçar, mas depois percebi que podia, no meio de tanta agitação, perceber e chatear-se, mas não resisti. Fiquei contente por retaliar com humor! Desde que não percebesse que estava a desenhar naquele instante, os riscos podiam ter ido parar aos ténis em qualquer altura, se calhar até como partida das colegas... Só é pena não saber nenhum palavrão em italiano e não ter desenhado um símbolo grosseiro!



Chegada ao aeroporto, voltei a passar pelo cordão de fitas colocado de forma a ser um corredor em forma de serpentina. É chato andar às voltas numa pequena sala, para frente e para trás, quando atravessá-la a direito levaria metade ou mesmo 1/3 do tempo. Mas todos os passageiros têm de passar por aquilo, ás voltas e voltas... porque será? É para reconhecimento facial? Não entendo, não aprecio, mas temos de seguir esta e muitas outras regras dos aeroportos e das viagens em aviões comerciais...

Concluí então que não me agrada viajar de avião. Parece que estou a entrar numa ceita! Pode ser stressante, principalmente quando se leva com o stress dos outros. É uma pena que as viagens de navio tenham caído em desuso! Atravessar o oceano não é rápido, mas deve ser tranquilo. Será?

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Mudanças de hábitos INTERNET

Sou  da  opinião  que as  mudanças  graduais são as que mais ameaças apresentam. Porque  as pessoas  não percebem que o  que  as rodeia, e  elas  mesmas,  estão  a mudar. Depressa se  alteram  os hábitos, sem que  se  dê  conta da magnitude de  tudo.

Por esta razão  considero as mudanças súbitas muito mais  benéficas. Assustam-nos  de morte. Temos receios,  medos,  é  o desconhecido... mas uma mudança súbida não tem máscaras. É  o  que é. 

A  principal  mudança na  sociedade tem origem  na tecnologia, em  particular na internet. Esta  surgiu gradualmente, mas mudou radicalmente todos  os  costumes. Costumava pegar numa caneta e  escrever um diário, agora escrevo aqui.  Costumava sentar na cadeira  a ver televisão, agora distraio-me no computador. Costumava  brincar com outras crianças aos jogos de tabuleiro,  cartas, ou jogos de  contacto físico. Agora  brinca-se na  internet,  a  jogar  jogos  virtuais.

Mudanças radicais, mas  graduais. Pouco recriminadas  porque ninguém tem  nada realmente  mau  a  apontar à  internet,  só  benefícios. E  fica-se viciado  nisto! Diria até que dependentes!

A  internet serve para tudo: precisa-se de saber onde fica  determinada rua? Vai-se à internet. Queres  saber  uma receita  especial? Vais à internet. Queres  rir um bocadinho com  scketchs de humor  ou ler  umas piadas? Vais à  internet. Queres trocar  de carro, comprar um animal, vender alguma coisa? Vais á  internet. Procuras emprego? Vais à internet.  Precisas de comprar  mercearias? Vais à internet. E que tal fazer umas transacções  bancárias? Vais  á internet! Queres  falar com os amigos? Vai à internet. E  que tal  namorar  um  bocadinho? Vais à internet!

As  pessoas não têm presente  na  consciência o  quanto mudam. Podem achar que  não,  mas  a  isso são  conduzidas  sem  se  darem  conta.  Mesmo quem, eventualmente (não  sei  se  existe),  não tenha internet, acaba por ser conduzido a usar o serviço. Por exemplo: os pagamentos  à Segurança Social  deixaram de ser  possíveis pela via presencial, num balcão de uma das  instalações do Instituto, em  frente  a uma  pessoa de  carne  e osso. Parece-me  que  só se aceitam formulários via-internet.

Estava lá uma vez e  vi  a aflição de algumas pessoas mais velhas,  que logo  afirmavam: mas  eu não tenho  isso! Não percebo  dessas coisas!
 - "Então  peça  a  alguém  para  a/o  ajudar". - responde a/o  funcionário.

E pronto! Parece  tão simples!! Mas  não é NADA simples. Descartam-se das  pessoas e dos problemas  com facilidade,  mas ele(a)s não deixam de existir!


Precisei escrever sobre este  assunto  porque comigo sucede-se o seguinte: entristece-me quando oiço dizer "está na internet,  procura". Qualquer questão  que  se tenha, a resposta vem igual. Mas que raio!  Acho que as  pessoas estão a ser preguiçosas e não  necessáriamente práticas ao depositar  demasiada fé numa coisa.  É  quase deixar  que essa  coisa pense por elas. Por exemplo: uma pessoa mandou-me procurar uma informação que estava  num  site. Mas não sabia que site era esse. Apenas que se tratava do site de um "Instituto" e que o nome era "Portugal qualquer-coisa".  Com esta e outra referência, achou que tinha dado todos os dados necessários para qualquer pessoa chegar à informação.

É claro  que não se  consegue!!
E  depois desenvolve-se uma "conversa  de  burros", em que uma pessoa  diz que "só encontra isto" e  a outra responde  "mas no site  vem  a dizer aquilo"  e,  para  agravar, a  pessoa também nunca viu  o site, foi  uma terceira  que ouviu dizer  que era assim!

Não gosto. Detesto! Faz perder tempo. É informação  inútil, que  ainda por cima conduz  a  conflitos. Se formos a ver o  método tradicional, quando em comparação, acaba por sair em desvantagem. Preciso de uma informação, vou ao tal Instituto e pergunto! É  mais rápido ou não??

A geração dos meus  avós "aventurou-se" no  mundo  por  necessidade de uma vida melhor. Abalaram do norte  porque disseram-lhes que  havia  uma "vida  melhor"  em  Lisboa. E  partiram  apenas  com a vontade de encontrar essa vida  melhor e confiantes  na sua  capacidade  de trabalho. Ao chegar-se  ao  destino, "achavam-se" os  compadres pela  boca. Dizia-se a um qualquer trauseunde o nome do sítio onde  se queria  ir e  bastava-lhes  seguir as direcções para chegar lá.


Agora temos  a  internet, temos  GPS, mapas, temos tanta  coisa mas  falha o  principal: falta-nos o NOME!

E,  sem nome,  não se  chega lá. Haja a  tecnologia que houver,  ao  invés de se  encontrar o "Instituto X",  encontram-se  os Institutos  do abecedário inteiro!!

"Mais" não é melhor. "Fácil" não significa  rápido. Até  porque  se  perdem  muitas horas de volta dos afazeres  e  entretenimento que a internet  e outros  gadgets tecnológicos proporcionam.  Não sobra muito tempo para outros convívios.

Não,  definitivamente, a  internet  não  torna nada mais  rápido,  porque  a dependência  é  muito morosa!! E a qualidade que impôs nos trabalhos exige uma utilização de recursos  mais ampla,  o que  aumenta o  tempo de execução  de qualquer tarefa. Utilizam-se mais ferramentas,  mais programas...

Um dia de  24h não chega para tudo o que a internet  tem  para  nos  aliciar...

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Televisão é ver o telejornal

Abri uma revista com aqueles questionários "pergunta-resposta" e deparei-me com:
P- "O que não perde na televisão"?
R - "O telejornal todos os dias, para estar actualizado".

Que resposta mais antiquada! Mas isto ainda existe???

  Cheguei à conclusão de que andei sempre um pouco na vanguarda das tendências porque, muito sinceramente, nunca me preocupei em ver o Telejornal todos os dias! E não tinha problemas em dizê-lo.

No entanto, há 5 ou 10 anos, não ver o telejornal tinha uma conotação muito negativa. Na década de 90 eras mesmo quase ostracizado por te faltar esse hábito. Ninguém gostava que se descobrisse que não se era espectador do Telejornal. Era tabu! Ainda assim, não tinha porquê sentir vergonha em dizê-lo. Certamente não ia mentir, como a maioria da população portuguesa. Fosse a quem fosse que se perguntasse na rua o que não perdia na televisão, a resposta foi sempre "O Telejornal". Era a resposta segura, politicamente correcta, ninguém ia fazer pouco de ti por assistires a um programa informativo! No entanto, se a opção fosse para o entretenimento, a coisa não era bem vista. Por isso, alguns dos entrevistados de rua quando confrontados com a pergunta, "disparavam" de imediato o Telejornal e depois, como que a confessar o verdadeiro interesse, acrescentavam outro programa. Alguns homens complementavam a resposta com uma partida de futebol, que só lhes ficava bem. Mas jamais diziam que viam uma novela. Iam ser gozados e sentiam-se diminuídos. As telenovelas eram assistidas pelas mulheres! Era este o ambiente PRECONCEITUOSO que pautou, durante décadas, o colectivo. Algumas mulheres lá complementavam a resposta com "a telenovela", como que a confessar só então o que realmente não perdiam na televisão. Algumas sentiam, ainda assim, necessidade de se justificarem com "porque dá a seguir ao telejornal",  ou "só de vez em quando".

Claro que, no meio disto tudo, havia quem realmente visse o Telejornal, mas a grande maioria regia o seu comportamento por estas hipocrisias sociais. Socialmente aceite era ver o Telejornal das oito (20h00), ver informação. O entretenimento era visto com piores olhos. O que mudou desde então!!

A meu ver, eram todos fracos, incapazes de assumir o que realmente gostavam por temerem o julgamento dos outros. Muitos, quando confrontados com os factos que se estavam a passar no mundo, nem sempre se saiam bem com as respostas. Um teste que rapidamente denunciava a falta de hábito de acompanhar as notícias pela televisão.

Agora tudo mudou. E tudo começo com a SIC, o primeiro canal independente de televisão. Só mesmo quem gostava e acompanhava a história da televisão antes e depois desta mudança social, sabe o quanto TUDO MUDOU desde então. Podemos até nos esquecer, mas a televisão é a responsável por grandes mudanças no mundo e na sociedade. De vez em quando, lá vem ela "agitar" as águas mais um pouco...

Não tenho dúvidas que esta próxima era pertence à internet e às novas tecnologias. Eu própria sou incapaz de ver televisão sem ter um teclado de computador agarrado à ponta dos dedos. O hábito de assistir televisão alterou-se por completo. Tenho saudades de estar sentada ou deitada e simplesmente ver um programa ou filme na televisão. Sem fazer mais nada! Mas tenho sempre outros interesses aos quais quero me dedicar e acabo por fazer mais que uma coisa ao mesmo tempo. Ver televisão e só televisão, é um hábito perdido, que já me deixa saudades, como afirmei. Bem que tento ver só "aquele programa", dando-lhe a máxima atenção, mas nunca que o computador abandona o colo ou está desligado...

Voltando ao Telejornal, de facto, nunca adquiri o hábito de ver o telejornal. Na verdade, era algo que me afligia desde muito nova. Não compreendia como, depois de ver  imagens de crianças africanas a morrer à fome, as pessoas podiam retomar o seu quotidiano sem se sentirem afectadas. Deve ter começado por aí mas, na verdade, para quem não se importava de perder o Telejornal e preferia fazer outras coisas àquela hora da noite, a verdade é que não me sentia assim tão necessitada daquele bloco informativo para ficar minimamente a saber o que se passava pelo mundo. As notícias correm e sabem-se sem existir necessidade de as ver na televisão. Hoje em dia isto é ainda mais verdade, mas na década de 90 não havia a internet com motores de busca como o Google para pesquisar notícias! (A sociedade prepara-se para grandes mudanças nos hábitos de consumo!). E gostava de ver televisão pelas horas a dentro, de madrugada. Hábito mais comum agora e já há algum tempo, mas não tanto quanto antes. Por isso, agradava-me muito mais os blocos informativos "directos ao ponto" que passavam à uma hora da manhã. Se calhasse dar com um e este puxasse o meu interesse, não tinha porque não ver. Mas sintonizar propositadamente a televisão por isso, não era meu hábito.

Em televisão vi tudo: foi ela que me "ensinou e educou", foi babysitter. Preferia o entretenimento e essa é uma tendência compreensível. Quem não gosta de descontrair e tentar esquecer o que lhe angustia? Rir é o melhor remédio! O que via na televisão? Bem, tudo, na verdade! Desde aqueles documentários que muitos achavam enfadonhos e desinteressantes às telenovelas. Sim, eu via todas as telenovelas que passavam nos dois canais de televisão que existiam na altura. Não excluía a RTP2, como muitos faziam por preconceito ou preguiça de mudar de canal, pois era considerada elitista, um canal para "homens" ou "intelectuais", porque passava muito desporto, programas e filmes culturais. Tanto um quanto outro tinham coisas interessantes e variadas. Incluindo novelas.

As telenovelas é outro género televisivo vítima de preconceito. Lembro-me tão bem de andar na escola e já na época em que a SIC e a TVI davam os primeiros passinhos e ouvir uma colega perguntar a todos se viram o episódio da novela na véspera, toda entusiasmada e a querer comentar a história. Mas jurava a pés juntos que não via telenovelas! Sabia quem eram as personagens, qual o papel delas na história e tinha muita ânsia para debater a trama com outros, mas NÃO VIA A TELENOVELA! Ora justificava-se que tinha sido "só ontem", ou logo dizia que só conhecia o nome da personagem porque a avó via a novela, tinha a televisão ligada e ela como que era obrigada a ouvir! Mas sempre dizia que não as via e delas não gostava.

Hipócrita! Esta era mais uma que só via o telejornal...

Um homem ou o público em geral só admitia ver uma telenovela, quando esta era um MEGA ÊXITO, comentada por toda a parte, daquelas em que as personagens saltam do ecrã para verem os seus hábitos inserirem-se no quotidiano da sociedade. "Estou certo, ou estou errado"?, "Nos trinques!" - são duas expressões que andavam na boca de toda a gente na década de 80 para 90, graças a personagens de telenovelas como Sinhozinho Malta, da novela "Roque Santeiro" (1988/89) ou de Timóteo de Alenquer da telenovela Tieta (90/91), uma novela que mexeu completamente com a sociedade portuguesa. Ninguém se importava de admitir que a assistia. Fez furor, motivou discussões e pôs o país inteiro a ouvir a sua banda sonora e a tentar descobrir quem era a mulher de branco (personagem misteriosa dentro da trama).

Mas como tudo isto era entretenimento... todos sintonizavam a televisão para não perderem o TELEJORNAL!

Pelos vistos e a concluir pela resposta a este questionário, algumas pessoas em algumas zonas do país, ainda se sentem compelidas a colocar em primeiro lugar e como resposta aceitável, o TELEJORNAL como o programa a não perder na televisão. E para quê? Para estar actualizado! Não para se manter, mas para ficar... LOL!

E os telejornais? O que mostram?

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Uma geração de diferenças

É comum existir uma diferença entre gerações. Quem eu sou hoje é fruto de uma conjectura social, educacional e familiar.

Sempre achei que não seria difícil dar a entender a minha história. Quando me imaginava a falar da minha vida com alguém, lá para a frente, quando quase toda ela está no passado, não o imaginei ineficaz, por existirem obstáculos na comunicação.

Vivo com a sensação que, um dia, terei esta necessidade de narrar o meu caminho. Explicar porquê estou onde estou, apontar onde errei, quais erros podiam ser evitados por mim e quais não podiam por força das circunstâncias. É preciso tempo para se ver com clareza estas certezas. E, ao tê-las, é preciso divulgá-las aos que estão com dúvidas.

É isto o aprendizado. É isto a vida.

Mas nunca imaginei que o receptor pudesse ter dificuldades de entendimento que vão para lá da sua consciência. Não tinha compreendido que as conjecturas alteram a nossa percepção, como se o frio de Inverno no dia de hoje em nada consiga ser igual ao frio de tempos atrás.

Mas não falo apenas das grandes mudanças sociais. Não aquelas que até aqui têm pautado a continuidade das gerações. Não é da pobreza e inexistência de automóveis na infância de meus avós, quando comparada às mudanças que a televisão trouxe para a infância de meus pais ou a internet acarretou para a minha. Não falo destas coisas óbvias e singulares. Refiro-me a transições menos perceptíveis, que decorrem em muito menos tempo e que são menos perceptíveis de consciencializar.

Se explicar agora como foram os meus estudos, o receptor mais jovem já não vai ter como compreender o que tenho para contar, porque esta é uma realidade em constante mudança. Comigo deram-se sucessivas mudanças, imagino que agora não é muito diferente!

Como pode o entendimento ser eficaz, se uma mentalidade não conhecer, ainda que empiricamente, os factos que foram a realidade de outra?

De que adiantam os desabafos escritos? Os legados?
O que é que os olhos que lhes botarem a vista em cima vão achar dos momentos de dor, conflito, dualidade, quando já os avaliam com uma percepção diferente?

Eis a ironia desta questão. Embora as coisas sejam linearmente as mesmas e nada realmente mude, existe toda uma conjectura que faz com que nada seja assimilado com a capacidade de compreensão que só quem nasceu num determinado período de tempo e com determinadas conjecturas é capaz de compreender. Há muita coisa que nós achamos que entendemos do passado, mas não passam de uma interpretação da realidade. Quem somos nós para entender a mentalidade social, educativa e familiar de indivíduos que povoaram a Terra no século XVIII, XIX, se já não sentimos o frio de Inverno da mesma maneira?



sexta-feira, 1 de julho de 2011

Défice, Troika e Medidas de Austeridade do Governo

A propósito de um post que coloquei aqui a 11 de Julho de 2010, em que me revoltava com o entusiasmo patético de figuras públicas a promover a selecção de futebol com a frase: "O que eras capaz de fazer pela tua selecção"?, quando deviam era se centrar no que cada português é capaz de fazer pelo seu défice, agora chegámos a um ponto em que as medidas estão aí, e é preciso agir.

O governo recém-formado está a divulgar as medidas de austeridade. Metade do 13º mês será para o Estado. Como é que interpreto esta medida? Como tenho encarado tudo o resto: desde que seja para melhor e desde que, para o ano, não nos venham pedir para cortar ainda mais, sou toda a favor. É preciso medidas de austeridade, que venham elas. Mas que sejam funcionais. Que não seja como o IVA e como o tamanho do défice nos últimos meses: sempre a subir, contrariando todas as estatísticas. Isso seria muito mau e tiraria, de todos os portugueses, o ânimo e a crença de que as coisas vão melhorar.

Não é assim que quero pensar. Acredito que vamos melhorar e sair do buraco. É assim que temos de pensar e de agir. Se depois de sair do buraco, o governo começa a achar que está tudo normal e pode esbanjar novamente dinheiro - isso é que me preocupa.


Entre outras medidas, vão cortar ao meio o 13º mês. Pelo menos não o tiram por completo! Foi assim que pensei. Procuro o optimismo. Não é um sentimento de "tapa-olhos", mas um voto de confiança nas medidas que vão ser tomadas. Se for para melhor, que venham elas, que sejam implantadas e que resultem, para que possamos recriar uma sociedade melhor, mais justa e equalitária.

Poucos empregos, mal remunerados, muitas falcatruas, muitas empresas e pessoas a ganhar por fora e a fugir aos impostos. Isso tem de acabar! O próprio governo é o principal culpado desta situação. Deixou culpados saírem impunes por anos e anos, até os bolsos de corruptos, gatunos, ambiciosos, ladrões e oportunistas ficarem tão cheios que não tinham mais por onde se virarem. Esticou-se a corda ao limite! E as formiguinhas a trabalhar, a trabalhar, por migalhas, a acumular preocupações, doenças, mais preocupações, a adiar ter filhos, preocupados por não os conseguir sustentar ou lhes dar uma formação adequada às exigências de uma sociedade em progresso, a viver em stress, furiosas, descontentes... tristes!

As medidas de austeridade... que sejam a tempestade antes da bonança! Que venham, sejam de curta duração e antecedam um período longo de prosperidade, sol e alegria. O povo já merece.

terça-feira, 8 de março de 2011

Assédio Moral

Tenho estado permanentemente preocupada com a minha situação laboral. Na realidade, sou trabalhadora por conta doutrém, que, legalmente, trabalha por conta própria. Ou seja: Passo recibos verdes à entidade empregadora.



Com isto, esta livra-se de pagar mais impostos, quem paga a segurança social SOU EU - os tais 160€ mensais, não tenho DIREITO a coisa alguma, NÃO recebo 13º MÊS, não tenho SUBSÍDIO DE FÉRIAS, não tenho FÉRIAS... e estou a trabalhar tal como qualquer contratado da empresa!



O que me tem atormentado o espírito ultimamente é a plena consciência do quanto sou MORALMENTE ASSEDIADA no trabalho. No primeiro ano e meio, o assédio de um colega que, tal como eu, é independente, prendeu-me demasiado a atenção para que pudesse compreender as diferenças de trato do patrão também como assédio moral. Claro que as detectei de imediato, mas interpretei cada uma delas como "falta de reconhecimento" pela minha dedicação ao trabalho e algumas outras situações desculpei-as como tendo origem em preocupações pessoais e ao stress.



Agora, que faz quase TRÊS anos que estou naquela empresa, dou comigo a perceber que continuo a ser moralmente assediada de várias formas possíveis e que, estas, já estavam presentes desde o início, eu é que "as desculpei" com outras justificações ou tolerei-as por achar que, com o tempo, iam dissipar. Mais que não fosse, porque o merecido reconhecimento profissional acabaria por se evidenciar e o meu próprio mérito acabaria por assim o impor.



Estava enganada. Que tenho mérito, isso, a meu ver, é indiscutível. Mas tenho 100% de dúvidas quanto à entidade empregadora - o patrão - saber reconhecer isso.



Dou exemplos... ai! São tantos que até me custa se tiver de elaborar uma lista tentando referir todos! Vou começar por... pela presença na empresa. Como trabalhadora independente, a presença no local de trabalho não é imposta como a um contratado. Mas a minha foi-me sempre imposta pelo patrão. Eu precisei ir ao dentista tratar de uma cárie e só três meses depois de desejar fazê-lo, é que consegui um dia útil da semana para me deslocar ao médico. Essa, não esqueço!



Nesse tempo, a cárie fez os seus estragos e, se calhar, a desvitalização e a consequente despesa que esse tratamento acarreta, teria sido evitada, caso tivesse procurado ajuda há mais tempo. Ainda assim, fosse qual fosse a consulta médica a que precisava ir, conciliava-a num horário que me permitisse utilizar o resto do dia para deslocar-me ao local de trabalho - que fica bem longe e me obriga, todos os dias, a quase duas horas de deslocação para ir, e outras duas para voltar. Além disto, quando chego, aguarda-me uma caminhada de 15 minutos por um caminho que nem pavimentado com um passeio era. Quando chovia, chegava sempre enxarcada de cima a baixo, não importava os cuidados que tinha para o evitar. Os meus pés... sempre molhados! Por vezes, quando chegava à empresa, pedia emprestado um dos aquecedores para os secar, mais às meias e a botas. Sou a única ali a trabalhar que não tem carro. Se não chegasse às 9 horas, era chamada à atenção. Como tenho de voltar a subir a rua quando saio da empresa, tenho de sair, no mínimo, até 5 minutos antes das 18.00h para conseguir chegar a tempo de apanhar o transporte. Mesmo em dias de muita chuva, acham que alguém se preocupou? Até me ocupavam os últimos preciosos minutos, fazendo com que tivesse de correr esse percurso para não perder o transporte que passa de hora em hora.



E sempre, sempre, ao me ver sair, o "patrão" suspirava. Vamos a ver: eu cumpro horário de trabalho (mas não tenho quaisquer obrigações - é até, ilegal), saio a 5 minutos para as 18.00h (Ui, chamem a polícia!). No inverno, sair às 18.00 horas significa que já está escuro que nem bréu e tenho de subir ruas íngremes à beira de uma movimentada estrada e fazê-lo a correr, porque já vou com atraso. E ele suspira? Com que legitimidade??



Fê-lo muitas vezes e comecei a assossiar, até porque, algumas vezes, olhava para o relógio e grunhia um som. Uma vez tive de lhe dizer, numa conversa, que isso não se faz. Pois, numa ocasião, cheguei às 10.00 horas da manhã ao trabalho. Isto aconteceu há poucos meses. Em Outubro, provavelmente. Ele já nem me pagava o que tinhamos acordado, eu já estava a trabalhar na empresa há dois anos, com uma diferença salarial brutal em relacção à minha colega, cuja presença não era cobrada e o nosso acordo estipulava que eu não tinha que aparecer todos os dias, muito menos sempre às 9.00 horas... e ele, quando nem sequer tem ali alguém por perto, ao me ver caminhar em direcção à empresa, olha para o relógio e diz-me as horas e os minutos que são, abanando com a cabeça e usando um tom recriminatório. Foi a gota de água e não deu para deixar passar em branco. Muito calmamente, voltei para trás e disse-lhe: "São 10 horas e 8 minutos são... e daí?".



Ora a lata! O descaramento! No final de dois anos, em que fiz inumeros sacrifícios pessoais em prol da empresa, em que cedi a todos os seus pedidos para ficar mais tempo a trabalhar - trabalho esse que terminava às 3 da manhã, e eu, de pé desde as 7h da manhã... É muita lata quando me tem ali todos os dias, sempre pontual! Mas há mais! Eu trabalho durante a hora do almoço. Faço, portanto, 9 horas diárias de trabalho. Em deslocações levo sensivelmente 4 horas, o que faz com que sobrem 11. Se dormir 8, coisa que é mais comum acontecer pela metade... sobram apenas 3 para fazer todo o resto. E o resto que é preciso fazer é lida da casa... :(



Mas há mais! A coisa só mudou em Janeiro de 2010 mas, os seus próprios funcionários - coisa que eu não sou - aqueles em que ele realmente podia exigir o cumprimento de horário, tinham faltas gigantescas! Uma chegava sistematicamente ao meio dia! Muitas vezes, precisava sair às 16.00 h, e lá ia ela. A hora de almoço eram, na verdade, duas ou três..! Sem exagero. E, da boca dele... silêncio! Caldinho perante esta realidade! A diferença de trato era escandalosamente brutal! E tudo porque, o imbecil (neste caso é mesmo o termo apropriado) acha que eu sou dispensável à empresa e a outra não é - por isso permite que uns fazem o que lhes apetece e de outros, que já fazem muito, exige mais ainda.



Neste aspecto, é um pobre imbecil...



Quase sempre fui a primeira a entrar na empresa. E por ser a primeira a sair, apenas disfasada de 5 minutos dos restantes.. este tratamento? Ah! E há mais um detalhe importantíssimo neste meu horário... o não fazer pausa para o almoço. Trabalho, perfazendo 9 horas diárias! Além disso, muitas vezes trouxe trabalho comigo para continuar em casa, e para fazer nos fins-de-semana. Feriados, trabalhei-os todos! Ele dizia que precisava de nós, senão não havia dinheiro para ordenados no final do mês... e que depois tirávamos o dia. Mas o dia nunca era tirado, e o feriado também não. Nada de férias, trabalhar nos feriados, horas extraordinárias, trabalho feito em casa, trabalho no fim-de-semana... Ele sabe disto, nunca me agradeceu o facto. Se um dia se mostrou compreensivo, foi por detectar que se excedeu e que está na altura de me passar um pouco de "banha da cobra" para me amolecer.



O acumular destas situações está a ter um efeito em mim que ultrapassa o mal estar emocional, e já se faz sentir no físico. Essas consequências estão a preocupar-me. Terei de viver com elas o restante da minha vida e, o causador, jamais, sequer, se reconhece como tal. A vida continua e eu... fico com as mazelas!



Há! Outra história que acabei de me lembrar: uma vez, fiquei mal do estômago durante umas semanas, mas fui sempre trabalhar. Sentia-me mal, ficava branca que nem cal, e tinha de ir constantemente ao WC... mas trabalhava. Mais para o avançar da coisa, tinha de ir trabalhar em jejum, para não vomitar com o movimento da camioneta, e continuar o dia inteiro sem comer nada - porque despejava tudo para fora. Até que um dia, todos me disseram para ir para casa (menos o "patrão"), porque estava mal á demasiado tempo. Lá fui. Chegada a casa, recebo um telefonema do "patrão" que me diz que fui embora para casa e agora estavam a precisar de um trabalho pronto, que precisava ficar pronto com urgência dali a duas horas! Coisa que ele decidiu no espaço de tempo em que me ausentei, porque até então... não haviam urgências.



É muito cruél! O que me valeu -se é esta a interpretação correcta que devo fazer à coisa - é que sou uma pessoa dedicada e precavida. Tinha trazido o trabalho comigo. Fi-lo entre contorções de dores e idas ao WC e enviei-o por email. Prazo cumprido, mesmo quando "inventado" em cima do joelho.



Noutra ocasião, muito mais para trás no tempo, os colegas fizeram uma espécie de "chantagem emocional" quando o patrão lhes pediu para irem trabalhar ao sábado. Começaram a dizer que só iam se "todos fossem", incluindo eu. Eu, que sou quem tem mais dificuldades em se deslocar e a que vive mais longe, fui trabalhar nesse sábado, para fazer um trabalho que podia muito bem ser feito em casa. O meu trabalho é escrever, logo, posso fazê-lo em qualquer computador. O deles é outro, necessitam das ferramentas que só a empresa disponibiliza. Eles tinham de lá estar, eu não. O que acontece? Chega ao meio-dia, vão-se todos embora. Eu fico ali sozinha na empresa. Afinal, onde havia a urgência?? Para quê aquela deslocação? Fui eu gastar o meu dinheiro na compra do passe - que podia durar mais uns dias se o tivesse comprado na 2ª feira, tive eu um prejuízo enorme, e aqueles que mais chantagem emocional fizeram, "piraram-se" antes do almoço? A lata! E nenhum foi capaz de dizer: "queres boleia"?



Era sábado - existem menos transportes públicos. Lá fui eu subir a rua a correr, porque achava ir já fora do horário. Não estava a sentir-me lá grande coisa. Andava exausta, precisava descansar e estava ali. Tinha desperdiçado o sábado numa deslocação desnecessária e ridícula. Fiquei economicamente prejudicada e, pelos vistos, a minha saúde estava também nas últimas. Estava mesmo a sentir-me mal. Os meus colegas muitas vezes me diziam que, se precisasse, devia apanhar um taxi e depois apresentar a conta ao "patrão", pois se me desloquei até ali em carácter laboral, esse era um direito meu. Quando cheguei à paragem, descobri que o transporte só ia aparecer dali a 2 horas! Estava sozinha, sem ter para onde ir, só queria chegar a casa para me deitar... duas horas bem podiam ser 5 dias! Eu não ia aguentar! Nisto, pára um taxi à minha frente. Nunca tinha visto um taxi naquelas bandas, e já ali andava há mais de um ano. Entrei nele sem pestanejar. Tive de ir levantar dinheiro, pois não tinha comigo nada. Fiz o trajecto até casa e, mal cheguei, entrei em colapso. Tanto que, até esqueci de pedir o recibo ao motorista - coisa de que falei mesmo antes de sair da viatura. Estava mesmo mal, pior do que pensava. Passei o Domingo a recuperar. E, na segunda-feira, apresentei a situação ao "patrão", deixando de fora a parte de me sentir mal. Ele ficou espantado por lhe pedir que pagasse o taxi. Achava que não tinha de o fazer. Até lhe fiz ver que, noutras situações, eu arquei com as despesas - situações em que precisei deslocar-me a trabalho e paguei do próprio bolso despesas que, de outro modo, não as teria feito. Isso, ele não se importa nada que aconteça... tinha uma colega que lhe cobrava cada centavo e ele pagava prontamente perante as suas queixas, sem barafustar. Era impossível não saber que eu teria o mesmo direito. Mas como fiquei calada, ele quieto ficou. Nunca veio ter comigo para me pagar os bilhetes de comboio... nada. No final do mês, até se "esquecia" de pagar parte do ordenado, ou, como aconteceu uma vez e eu achei desprezivel, arredondou uma quantia que acabava em 59.76€ para 59€! Ficando com os 76 cêntimos para si! Quer dizer: explora-me até a medula, não me paga um bilhete, faz-me ter despesas extras, (uma vez, por pedir que fosse trabalhar uns feriados, aumentei as despesas em 30€) e acha que não me deve o taxi? Como defendeu essa ideia, disse-me que acordava em pagar metade, porque a mais não se sentia na obrigação. Disse-o, mas não o fez. Eu não esqueci. Fiquei a ver se ele cumpria o prometido. Certamente não se esqueceu. O que fez foi ver se eu deixava a coisa andar. Deixei... vendo assim, acho que sou uma burra.



Tudo isto - que ainda é pouco no contexto do todo, está a perturbar a minha saúde. Coincidência ou não, desde que fui para lá trabalhar, a minha fisionomia alterou-se. Agora ando deprimida, por causa deste assédio, mas também porque começo a relaccionar os meus problemas de saúde com a sua existência. Dedico-me demasiado ao trabalho, e não ser reconhecida nem valorizada por tudo o que fiz e continuo a fazer, é doloroso. Angustia e causa um peso no coração e na alma. Tantas tantas vezes, as coisas só aconteceram porque eu estive lá para as fazer. E, no final do mês, ao invés de um reconhecimento, recebia a conversa "estamos mal, não há dinheiro, a crise...".



Uma vez disse-lhe que não me custa nada sair de um emprego. E não custa mesmo. Contudo, não tenho outro para onde ir e, para ser sincera, só o faria se gostasse do que ia fazer. Trabalhar sem prazer não é coisa que consiga fazer. E é por essa razão que tenho ficado pela empresa - por gostar do que faço. Não por não ser melhor do que aquilo ou por não ter outro lugar para ir. Também não procurei muito... gostava do que fazia, aquilo ocupava todo o meu tempo útil e mesmo o livre, e, ainda por cima, não era reconhecida pelo meu excelente trabalho! É... irresistível :(((((



Hoje, feriado de Carnaval, estou em casa, a trabalhar. Tal como passei o fim-de-semana. E para quê? Que benefícios retiro para mim? Ainda aguardo receber metade do ordenado do mês de Fevereiro. Ordenado esse que já foi reduzido em quase 200€, sem que eu tivesse muito que dizer a esse respeito.



Foi por esta altura, o ano passado, que, perante uma demonstração de ingratidão enorme, tive de apresentar ao "patrão" os números: quase 400 horas de trabalho num mês com uns 16 dias úteis! Cumprindo tarefas dantescas que, arrisco dizer, o comum dos mortais se recusaria a fazer ou o conseguiria cumprir com sucesso. Existem muitos a falhar por ali, e sou eu que costumo juntar todos os fragmentos e fazer a "colcha" sem deixar as marcas dos retalhos...



Sei que, literalmente, quase me matei a trabalhar para a empresa... Horas e horas seguidas de trabalho contínuo, exaustivo... para quê? O meu ordenado e condições laborais só fizeram foi piorar! Nunca vou receber o devido valor. Isso é tão infame que devia ser legalmente reconhecida e recompensada por isso. Sei que "safei" a empresa inumeras vezes. Existem prazos para se cumprir que, se foram cumpridos, à minha dedicação e empenho se deveu. Isso é tão evidente, que dispenso sempre os louros. Começo a perceber que, dentro de uma empresa, não se pode esperar que seja o trabalho a falar por nós. Temos de ser nós a dizer que fazemos um bom trabalho. Aí, os outros acreditam. Principalmente, se fores um mentiroso! É nesses que as pessoas acreditam mais! Agora, se fores do tipo silencioso, que trabalha na "surdina" e faz tudo acontecer, sem denunciar o esforço ou o tamanho da empreitada... esquece!



De momento, estou a realizar quatro ou cinco trabalhos em simultâneo. Essa é outra das minhas características. "Saltar" de um tema para outro, mantendo-os a todos na minha cabeça. Ainda não esqueci de um detalhe, de um contacto que tenha ficado de realizar, ainda não falhei com uma resposta que tivesse de dar a alguém... ainda. Estou cansada e, muito sinceramente, mereço melhor. E mereço me tratar melhor.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Surreal mas não é ficção

Acabei de ver um vídeo datado do dia 6 de Fevereiro, que regista um assassinato com uma arma de fogo. Foi notícia nos órgãos de comunicação social mas, não sei se fui eu que andei muito distraída ou se a notícia não foi muito explorada, mas desconhecia o ocorrido até a SIC anunciar um especial para hoje de manhã.


Custa a crer que aquilo é verdade. Passei o vídeo algumas vezes para acreditar, porque parecia tudo a fingir... Mas não foi!
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E numa fracção de segundos, tudo muda...
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Como é que alguém pode ceder ao "impulso" de tomar a decisão de remover a vida de alguém? Não tem volta, não tem emenda, não é uma decisão que lhe pertença... e se andarem todos a decidir que matar, para depois se entregar, é aceitável?
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Há casos, como o do filho que matou o pai com uma catana, em que uma pessoa percebe que existiu ali uma psicose, uma incapacidade de suportar o insuportável... mas neste vídeo, em que um homem de 65 anos, com a neta de 4 ao colo, dispara nas costas do pai da criança, de 35... parecia tão surreal que não quis acreditar. Não quis mesmo. Estava à espera de ver a situação reverter-se, descobrir que era um lougro, ver o suposto falecido levantar-se... surreal.

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De quem é a culpa? Culpas... bem, há sempre culpa de ambas as partes. Se o advogado (o falecido pai) era uma pessoa má, isso só Deus sabe... lá que não foi nada bonito ver aquele homem enorme a dar uma chapada numa mulher idosa que a colocou no chão, isso não foi. Mas também, momentos antes, essa mesma mulher mais um rapaz e outra pessoa agarravam-no por trás para o impedir de se dirigir à filha. E o que a mulher diz não se ouve ou se sabe, mas sei bem que palavras podem ter o mesmo efeito que punhais...
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Impedir um progenitor de ter uma relação com um filho não é correcto, por pior que este seja. A menos que a integridade da criança esteja em risco, como em casos de abuso sexual e psicológico, até o pior dos ex-maridos tem direito a um filho. O vídeo começa com o pai a ser agarrado por 3 indivíduos, que lhe tiram a filha dos braços à força!
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Muitos se chocam por saber que o ex-casal exercia cargos para os quais é preciso estudar e ter muita formação: ela é juíza, o que não é uma carreira nada fácil e o falecido, era advogado. Para mim, não há uma espécie tão mal cotada no panorama profissional quanto a advocacia... Eles, advogados e juízes, têm de ser pessoas muito especiais, serem muito centradas e conseguirem distinguir bem o trigo do jóio. Caso contrário, tão próximos que estão de crimes ediondos, começam a achar que aquela rotina é... rotina!
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Falo apenas pela experiência que tive num episódio que aqui já relatei. Ás vezes sou muito boa observadora - em momentos em que não faço por isso, acabo por intuir muito bem e ver com clareza as coisas como são. O episódio que vivi no tribunal de trabalho deu-me esta visão de que a maioria dos advogados são pessoas da pior espécie. Eu saí daquele edifício com dos juízes que me representaram. Eles tinham de lidar com aquilo todos os dias - uma batalha que estava, claramente, a perder-se... fiquei mais preocupada com eles e com o sistema de justiça português, do que comigo! Há coisas com as quais nunca quero lidar na vida. Tribunais, polícias e hospitais... quanto mais afastada, melhor. Não são realidades nas quais queira estar envolvida. Nunca ouvi o som de um disparo - nunca quero ouvir. Este no vídeo pareceu ser a fingir, de tão diferente que soou daqueles que todos os dias escutamos às centenas nas séries e filmes que passam na televisão. Fez menos ruído que o som do estalo. Há realidades que gosto que se mantenham afastadas, e esta é uma delas. Espero ser uma pessoa de sorte e nunca na vida ter o infortúnio de me cruzar com este tipo de situações, tão opostas que são da minha natureza.
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Aquele homem podia ser o filho da mãe mais sacana à face da terra... não legitima o acto. Um homem idoso, quiçá doente ou consciente que poucos anos de vida lhe restam, não tem o direito de trocar a sua liberdade pela vida de outra pessoa. "Toma lá 5 tiros e agora vai ao hospital!" - o que é isto??? "Acabou. Acabou. Leva a menina para casa"... que mentalidade! Vi o vídeo agora mais distanciada do impacto e fica claro que aquele idoso é possessivo e egocêntrico. Reparem: ele agarra a neta, como se estivesse a dizer "É minha!" e dispara tantas vezes NAS COSTAS do pai da criança! E depois o que diz, com naturalidade... como se tudo fosse aceitável. Excluíndo a ex-mulher aos gritos, os outros membros da família estão ali com a maior naturalidade. Como se aquele desfecho já tivesse sido ponderado entre todos com seriedade. Nem por um instante mostram-se chocados, nem por um instante o idoso revela sentir remorsos. Simplesmente tomou a decisão ali e pronto: "ACABOU". A chapada que o morto deu na mulher foi só o pretexto pelo qual ele aguardava para tirar aquela arma do bolso... que já estava ali de propósito. E os capangas?? O direito à vida é soberano. Nada conheço de leis, mas deve existir algures algo que o diga assim.
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Até porque, dizendo a verdade, não há nada pior que eu possa desejar a alguém que me tenha feito muito mal, do que uma longa, longa vida, cheia de problemas, com falta de saúde, azares, infortúnios.... enfim: sofrimento! Para sofrer, é preciso estar vivo. Há pior que isso?
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Aquela criança, muito provavelmente, não se vai lembrar do ocorrido. Provavelmente nem o entendeu bem no momento. Vai sim, se ninguém o impedir, é ter, para todo o sempre, gravadas em vídeo, as imagens da morte do progenitor. Para sempre imortalizadas, tal como uma Greta Garbo no cinema, uma Marilyn Monroe... sempre jovem, o tempo não passa e fica, para sempre, eterno. Eterno! Quando a menina chegar à idade do avô, após ter vivido a sua própria experiência de vida, irá espreitar mais uma vez o vídeo ao computador, para, novamente, se colocar no papel de cada um dos presentes, tentando adivinhar os porquês e a responder, com franqueza, o que faria se fosse aquela pessoa, e aquela, e aquela...
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Com isto, um homem está morto, e deixou dois filhos órfãos. Aquele idoso não deixou que uma vida que está por nascer conheça o pai. Há tanta coisa errada aqui...
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Ontem tive saudades de um programa televisivo que passou nos primórdios da SIC. O Juíz Decide. Acho até que vou iniciar uma petição e colocar aqui para que o programa volte a se realizar. PORTUGAL está a precisar de um sentido de justiça para dar o exemplo às massas. Sem orientação, as pessoas começam a achar normal andarem por aí com armas a disparar nas costas dos outros. Perde-se o sentido de justiça, de correcção, de tudo... EIS um papel que a televisão devia ajudar a divulgar.
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As saudades em ver "O Juíz Decide" de volta aos ecrans portugueses, vieran de um programa a passar, se não estou em erro, na Fox, que calhei ver ontem. Neste, um juíz escuta duas partes em letígio e dá a sua sentença. Mas o que vi deixou-me de inquieta. Sei que é televisão, que muito é para televisão, que o juíz mais parece um mafioso... tudo bem! Mas num caso em que dois amigos estão em letígio porque um emprestou ao outro 6000 dólares para este comprar livros de Banda Desenhada e o amigo recusa-se a pagar porque, quando foi preciso, ajudou o amigo a arranjar a casa-de-banho de sua casa... isso deixou-me preocupada, porque a decisão do juíz foi diminuir a quantia pedida - já inicialmente reduzida para 5000 dólares, para 2000. Ele até foi espreitar a casa-de-banho para avaliar o valor do trabalho que o AMIGO prestou ao outro amigo. Ora, amigos ajudam-se! Não apresentam facturas a seguir! Fez-me recordar pessoas manhosas e totalmente egocêntricas com que me cruzei, como por exemplo, uma colega que, por dar boleia a alguém um dia, no outro já está a cravar-lhe um almoço, argumentando que na véspera foi prestativa! Amigos da onça, estes! Dinheiro, ficam com ele... Acham-se tão especiais, que acreditam realmente que os outros até lhes deviam pagar por se disponibilizarem com a suposta "amizade"! O juíz decidiu manter a amizade dos dois, reduzindo o valor da dívida de 6000 para 2000! Um terço! Podia ver no rosto do aldrabão o contentamento ;(

.Em suma: programas que mostrem leis a serem cumpridas e justiça a ser feita, fazem falta à sociedade portuguesa.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O nosso PORTUGAL!

Já tentaram utilizar o muito divulgado, referenciado e sugerido SERVIÇO da SEGURANÇA SOCIAL, o VIA? O tal que se faz elogiar como a "distância mais curta para a Segurança Social"? Pois se eu tivesse 1€ por cada vez que marquei no telefone o 808266266 e de imediato recebo uma gravação a dizer para "tente mais tarde", tinha ganho dinheiro sempre que liguei. A última vez que utilizei com sucesso este serviço deve ter sido lá por meados de Abril de 2009! De lá para cá, tento, tento, tento... não adianta:  em horário útil, ninguém atende. E deslocar-me às instalações para obter informações é... "agora não sabemos, espere" ou "acabaram as senhas"! ARRE! PORTUGAL está MAL!!!
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E a tesouraria deste serviço, a situada no Areeiro? Se contasse tudo a que já assisti! Não é que os funcionários não fecham à hora do almoço mas agem como se o utente lhe devesse por isso? Ou seja: estão ali a atender DURANTE a sua hora de almoço, mas não deviam estar... e a culpa, é NOSSA?? Estive a um passo de fazer queixa quando assisti a uma senhora a ser maltratada e a ser coagida com a ameça "se continuar a falar alto, levanto-me e vou embora! Estou na minha hora de almoço!". É fácil ser-se impotente atrás de um balcão, ter voz grossa e maltratar uma senhora idosa, quase ileterada, que estava apenas nervosa e em nenhum momento foi mal-educada ou agressiva. Apenas estava nervosa porque, tal como muitos portugueses decentes, estava sossegada por ter em dia todas as suas obrigações para com o Estado e recebeu uma carta a informar que era devedora... compreensível que se mostre nervosa! Ainda mais por ser idosa, quase ileterada... uma pessoa decente, ali, verbalmente maltratada! Ui! Tremam os criminosos na cadeia!!

Esta situação revoltou-me e, cada vez que ali entrei, presenciei o tom ameaçador de um dos funcionários para com quem estão a atender, como se estivessem ali a fazer um enorme favor à pessoa e só e mais nada! Existem uns seis balcões, mas no máximo funcionam 3, embora só tenha visto 2... é o NOSSO PORTUGAL! O atendimento é lento e desesperador durante todo o dia, mas quem entre a  50 minutos do fecho, é uma maravilha!

Vá lá, façam a experiência: telefonem para o 808 266 266 já! A chamada não é grátis... mas a gravação é garantida!


ARQUI-TUDO!

domingo, 6 de fevereiro de 2011

O ADN e nós

Numa altura da minha vida em que quis conhecer-me melhor e já o tinha conseguido, entendi que o passo seguinte seria conhecer-me pelos meus. Fiz tudo por instinto, por vontade e gosto. Sempre tive curiosidade em compreender a vida dos meus e como isso dita aquilo que são hoje. Por essa razão e um pouco por casualidade, comecei a dedicar-me à Genealogia.
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Pouco depois, surgiu a oportunidade de estudar os meus antepassados com um pouco de ciência. Existem firmas estrangeiras com credibilidade que fazem análise ao ADN e, assim, podem estipular a que grupo pertencemos. Achei isto demasiado fascinante para deixar passar ao lado e estava decidida a investigar por esta via as minhas origens, pagar o preço exigido e receber em casa um kit de colecta, uma espécie de tubo com um cotonete de raspagem, para recolher amostras esfregando no interior da bochecha a ponta do cotonete.
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A questão é que, em termos de genealogia, quanto mais para trás for a colecta, mais informação se recebe. Ou seja: raspar a minha bochecha ou a de meus pais pouco interesse tinha. O ideal eram bisavós mas esses não conheci vivos. Porém, tinha os meus avós maternos vivos. A ideia de preservar-lhe o ADN era-me tão TENTADORA! Acho que todos deviamos guardar o nosso património genético à nascença e, depois de mortos, ele continuar a existir num armazem algures. Todos os seres humanos deviam ter essa prova de vida, e só essa. Porque andarem órgãos extraídos ilegalmente ou doados à medicina aí vivos em corpos de outros durante décadas apó o falecimento de um indivíduo não é a mesma coisa.
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Como estava a dizer, quis colectar o ADN de meus avós, em particular do meu avô, pois esse não carregava comigo - o masculino é diferente do mitrocondrial. Algo sobre ter uma amostra o mais "pura" possível, é muito tentador. Eu sou já o fruto da mistura combinada de meus pais, e estes a mistura dos pais deles. Meus avós são, portanto, os mais puros. Agora: como explicar-lhes que quero que abram a boca para lhes esfregar um cotonete no interior da bochecha?
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Dei voltas e percebi que não ia conseguir explicar fazer-lhes ver a razão. Provavelmente acabariam por me fazer a vontade, caso insistisse em pedir-lhes. Mas a verdade é que, enquanto não consegui abordar o assunto de forma a perceber que eles iam entender o propósito, não fui capaz de o mencionar. Hoje é um pouco patético e, com tanta evolução, até aquela geração ia compreender sem entender, o gesto. Mas na altura não tinha como eles, nem meus pais tão pouco, compreenderam porque razão andava eu a esfregar cotonetes na boca dos meus avós. Adiei a encomenda do kit até sentir que chegava a altura certa de fazer a colecta.
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Meu avô faleceu, como já aqui o relatei. Foi avassalador perceber que, com a sua morte, perdeu-se o seu ADN para todo o sempre! É como se lhe tivessem tirado o direito de realmente existir. O seu ADN seria, para sempre, prova viva de que viveu, que foi uma pessoa que habitou a Terra e agora, como tantos outros e como todos um dia, partiu para outro plano. Mas enquanto esteve neste... que provas há que existiu? Não ter colectado o seu ADN foi para mim uma perca de algo que não volta atrás. O nosso ADN sofre alterações. O dele também mas era o mais próximo que existia da sua geração, dos hábitos da sua geração... tudo registado no organismo, como um grande mapa de informação - para sempre perdido!
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Aqui há uns anos, precisamente em 2005, trabalhava temporariamente num local e, em conversa com uma rapariga, perguntei-lhe se ela tinha guardado as células do cordão umbilical do filho. Ela tinha acabado de dizer que fazia de tudo por ele e se preocupava com a sua saúde. A expressão do rosto dela foi de espanto e descrédulidade. A ideia nunca lhe tinha passado pela cabeça e, nesse instante, ela achou que tinha falhado gravemente como mãe. Tanta protecção e tantos cuidados com a criança e agora descobria que, caso ele viesse a ter uma doença grave e o seu próprio sangue à nascença o podia salvar, ela não o guardou.
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Minimizei de imediato o facto, dizendo que ainda existiam muitas pessoas que não conservavam o sangue do cordão umbilical - para que não se sentisse isolada no seu esquecimento. A VERDADE é que, em 2005 e até bem pouco tempo, poucos pais optavam por este procedimento. Confesso que imaginava que muitos dos hospitais ofereciam resistência à ideia e imaginei que, se fosse comigo, hospital que se recusasse a fazer o procedimento era hospital onde jamais ia acontecer o parto! Na altura o procedimento tinha de ser solicitado pelos pais e não era muito divulgado, pelo que, estes tinham de ser pessoas bem informadas ou ter a sorte de alguém, durante a gestação, lhes falar do procedimento e dos benefícios do mesmo. Meu Deus, já existiram casos de crianças que são salvas graça a esse contributo! Que melhor se pode desejar? É grátis, é natural, é orgânico, pertence-nos... na eventual necessidade, é bem melhor do que andar a químicos ou em processos de cirurgia...
Agora tudo mudou. E a razão não é nada nobre: NEGÓCIO. Abriram clínicas de criopreservação de células estaminais do cordão umbilical e tudo o que é figura pública às portas da maternidade faz publicidade na televisão, jornais e outdoors para levar mais clientela àquela empresa. Disse-se uma vez no noticiário, que o negócio cresceu uns 200% e eram das poucas firmas a apresentar elevados lucros diante da crise.
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Quando as coisas podem virar uma oportunidade de negócio rentável, derepente são indispensáveis e cessa a resistência... Acho isto tão feio, mas é assim que a sociedade funciona. Somos capitalistas. As coisas, por melhores que sejam, têm de dar lucro e nem mesmo salvar vidas é motivo suficiente para perder dinheiro! Por este prisma, espero que tudo dê lucro, para que possamos todos beneficiar do MMMMUITO que a ciência médica nos pode dar em termos de saúde. Pobre Christopher Reeve... se calhar teve a solução para a sua cura realmente acessível, mas, por não dar dinheiro, não avançavam com o processo e ele, impotente, a ver o seu tempo a acabar, a acabar... E é o tempo que dirá realmente se assim foi...
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Desde pequena que percebi que aquilo que pretendo alcançar ou mesmo ter, ainda não existe ou, se existe, não está ainda disponível. Tinha de esperar. Demasiado! Nesse sentido o meu karma tem sido infalível: ou sou demasiado nova para algo, ou sou do género errado, ou já sou demasiado velha... passada uma década, tudo muda! Aí todos os padrões então normais que ditavam as regras alteram-se finalmente para o ponto onde eu já me encontrava. Tem sido sempre assim. Não sei porquê, mas o tempo para mim não faz sentido da forma como nós o dividimos. Os anos para mim podem realmente significar segundos. Ou seja: lembro de "ainda ontem" estar "ali", mas o "ontem" foi há... 3, 6, 12 anos. Para sentir que estou realmente a viver esta vida, teria de a trazer para o meu ritmo e viver cada segundo como se fossem anos. Porque, quem se rege pela eternidade dificilmente acha que uma vida humana inteira é tempo que se preze... Mas isso é outra história.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Aparências e Karma

A notícia do dia de hoje envolve as circunstâncias da morte de Carlos Castro. Comentador de língua afiada, o senhor, de 65 anos, estava envolvido com um jovem de 21 cujo futuro, ao que parece, estava bem encaminhado. Mais que não seja, por ter 21 anos e a vida toda pela frente!
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Porquê um jovem de 21 anos e um velho de 65 se envolvem sexualmente? Acredito no amor, mesmo com uma diferença de idade grande, mas namorar alguém com idade de ser neto... é algo depravado, revela egocentrismo, não sei. E namorar alguém com idade de ser avô é... algo anormal quando se tem 21 anos. Não existe maturidade adolescente suficiente, não se está "adulto" há tanto tempo assim... Bolas! Na passagem do milénio o rapaz tinha 11 anos! O uso de "fraldas" é ainda mais presente que distante, entendem?
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Bem, julgamentos à parte, comecei a escrever sobre este assunto porque ele trás à ribalta muitas questões que já aqui abordei. Uma delas prende-se com as aparências.
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No telejornal da TVI passou uma peça sobre as reacções das pessoas que conheciam o jovem Renato Seabra. Ninguém acreditava no acontecido e descreveram o rapaz como sendo pacato, sossegado, respeitador e educado.
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Veio-me à mente o caso do Violador de Telheiras. Este também foi descrito como educado e simpático. Alguns amigos também se recusavam a acreditar que se tratava de um agressor sexual. Não sei porquê, julgo que a história por detrás do acto deste rapaz é diferente. Não passa de intuição a falar, mas, tirando como lição de ambos os casos que as pessoas não podem ser avalidas apenas pelo aspecto, os contornos deste crime parecem diferentes.
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Até agora pouco se sabe mas, se os dois homens tinham uma relação, não é difícil especular que tratou-se de um crime resultante de um acto passional que evoluiu para desentendimentos e agressões. Um impulso, talvez, algo não premeditado, claramente, uma raiva de momento, sei lá! Não sei porquê mas acredito que a vítima sabia como enervar quem estivesse a seu lado. Algumas pessoas sabem exactamente que palavras devem ser ditas e que acções devem tomar para magoar outros em todos os sentidos. Não deve ser à toa que era odiado por uns (como ele próprio dizia) e amado por outros. Talvez aqueles que o amavam como amigo tiveram o prazer de conhecer apenas o seu lado bom. O generoso, o que precisava e gostava de estar rodeado de pessoas assim. Mas para quem não se desse ao trabalho... era uma pessoa bem diferente!
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Não passam de conjecturas (claro), mas surgem da experiência de vida. Não esqueço também o colega de quem aqui falei. Tratou-me sempre mal e sem dar descanso, durante 15 meses! Nunca lhe dei qualquer motivo para tal mas nem por isso o deixou de o fazer. Com outros, era um doce! Quando uma nova colega chegou à empresa, ficou tão encantada com ele que claramente o deixava transparecer em elogios e alguns suspiros. Se perguntassem a todos os seus conhecidos como ele é, que personalidade é a sua, só iam sair elogios. Mas se perguntassem a uns poucos que, como eu, conheceram outra faceta sem sequer facultar provocação, iam ficar com outra percepção de uma mesma pessoa.
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Concluo então que existem no mundo pessoas que escolhem, aparentemente aleatoriamente, aquilo que querem ser diante dos outros. Mas apresentam apenas duas opções: ou são do bem, ou são do mal!
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Outra coisa que sobressaiu nesta história do assassinato do colunista português na sua amada cidade de Nova Iorque, prende-se com o testemunho de Sofia na televisão. A actriz, amiga de Carlos Castro, revelou que ele sempre dizia saber que ia morrer assassinado. Ora, isto diz muita coisa! Ou nada, não sei! Mas a interpretação que fiz foi que o homem como que intuíu que as suas acções e o seu estilo de vida estavam a rumar para essa eventualidade. É como alguém que não consegue parar de se drogar... e droga-se até chegar à obvia overdose. Digo isto porque um outro amigo disse na televisão que anteriores relacionamentos amorosos de Carlos Castro o tinham preocupado mais do que este - sinal de que o cronista gostava de correr riscos e de se envolver com pessoas que apresentavam algum tipo de risco e instabilidade.
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Outra coisa que me chamou a atenção nas palavras da actriz Sofia, foi dizer que o rapaz suspeito de ter cometido o crime ficava na casa de Carlos Castro e este pagava-lhe tudo. Ora, isso perturba-me um pouco porque, quando alguém tem segundas intenções, poder económico e pretende obter favores sexuais, costuma oferecer guarida e pagar algumas coisas (como se isso lhe desse o direito de cobrar sexo em troca). Claro que não estou a dizer que este é o caso deste caso, mas sempre me incomoda quando um "amigo" traz outro para dentro de casa e põe-se a comprar-lhe coisas que este não pode alcançar pelos seus próprios meios. Faz-me lembrar prostituição e é também uma realidade muito conhecida da condição feminina ao longo dos séculos, nas sociedades maioritariamente conduzidas por leis e regras maxistas.
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Ou seja: o mais forte e rico continua a conseguir tudo o que quer do fraco, pobre, ambicioso e necessitado. É um claro aproveitamento e um abuso de poder!