segunda-feira, 23 de junho de 2014

Celebrar o quê?

Estava a trabalhar ininterruptamente há quase oito horas em gestos que se exigem rápidos, repetitivos, profissionais, sem ter como fazer pausas, mexendo-me a correr, sentindo sede, cansaço, sendo impossível parar, nem para ir ao WC, quando subitamente oiço um coletivo grito de contentamento.

Não entendi a razão. Quando percebi que era por causa do resultado de um jogo de futebol achei despropositado e sem sentido. Fiquei irritada. Aquela euforia por causa de uma coisa que não influencia a vida de nenhuma daquelas pessoas. Que não faz diferença alguma, ninguém ganha mais ou vai viver melhor. Teriam feito melhor se gritassem pelo trabalho que estava a fazer ou se reagissem assim todos os dias ao fim de completarem bem as suas funções.

Cada qual no seu lugar, deve fazer o melhor que conseguir. Eu me esforço para isso todos os dias, tanto quanto cada jogador naquele campo. Porque é que as pessoas não aprendem que precisam de valorizar o que lhes é importante?

A minha «equipa» é aquelas pessoas com quem trabalho. E o trabalho bem feito é a excelência do resultado que procuro alcançar. Todos os dias. Tão simples. Não merece isso uma celebração? Acho que sim. E uma não, muitas. Já fiz "Hoo-hoo" quando terminei em cima do relógio uma tarefa dantesca. Decerto bati um record. Mais ninguém sentiu vontade e fiz questão de reforçar que sentia que merecia e me apetecia então lancei outro "Hoo-Hoo", levantando os braços ao céu. 

Foi um golada, terminar aquele trabalho. Um excelente resultado e uma excelente performance. As pessoas deviam centrar-se nas suas metas e não depositar nos outros os sonhos que não sabem ter ou perseguir para si. Percebi tanta coisa naquele instante de euforia que nem sei como especificar. Ali estava eu a trabalhar bem, a ganhar mal e talvez bem menos do que inicialmente pareceu ser o caso, rodeada de pessoas que na sua maioria maldizem o que fazem e criticam muito a vida e o desempenho dos outros mas desatam aos pulos e aos gritos de satisfação por causa de uma bola que entrou numa baliza num local que fica do outro lado do oceano. 

Não vejo realmente razão para as pessoas celebrarem a performance alheia como se fosse sua, não procurando para si o mesmo resultado através do esforço e empenho. Não entendo como podem não celebrar a própria performance quando merecido nem celebrarem a das pessoas mais próximas que geram bons resultados e esses sim, influenciam o todo das suas vidas.