segunda-feira, 6 de outubro de 2014

A fashion wave facebookiana das fotografias de criança aqui em casa


Há uns posts abaixo questionei-me sobre o porquê das fotografias antigas de quando se era criança andarem a ser constantemente postadas no facebook. Chamei a isso uma "fashion wave" facebookiana. Quis o destino que essa onda (wave) viesse rebentar à minha «costa».

Passo a explicar. Não, eu não aderi aos cordeirinhos ou segui a carneirada. Não fui buscar fotos de quando era pequena para exibir no facebook. Mas quase.

O outro filho de meus pais veio pedir-me fotografias suas, de quando era pequeno. Ora quem tem os álbuns com essas lembranças, naturalmente, é ele, não sou eu. Lá na sua casinha, arrumadinhas numa caixa qualquer, depositadas na arrecadação, a ganhar teias de aranha.

Só que é tão preguiçoso e nunca deu importância alguma a isso que achou mais prático vir ter comigo para que eu procurasse entre as minhas fotografias onde ele aparece em criança. Enquanto assentou a bunda no sofá eu andei pela casa à procura de alguma fotografia desse longínquo tempo. Lá encontrei umas quatro e lhas fui entregar. Não ficou satisfeito com nenhuma, torceu o nariz. Perguntou se só tinha aquelas e disse que sim. (Se tem preguiça para ir buscar as suas à arrecadação, porque hei eu de ter ter o trabalho que ele não quer ter para ir buscar as minhas?)


Uma fotografia que tenho e que sempre gostei é uma onde está a usar o bacio. Sempre detestou essa fotografia. Zangou-se comigo quando a coloquei num álbum familiar. Pois essa foi uma das fotografias que disponibilizei. Sou da opinião que todos nós que passamos pela fase do bacio devemos ter uma fotografia sentados nele. Acho tão adorável! É natural e bonito, transversal a todos, seja lá quem for a pessoa. Desde o primeiro-ministro ao faxineiro. Torna-nos a todos seres iguais. E por tudo isto e por simplesmente gostar, aprecio fotografias de crianças a usar o bacio.

Ficou uns bons vinte minutos a olhar para todas, a decidir quais ia colocar e em particular se ia usar a do bacio. Como não gosta da foto disse logo que não. Usei dos meus argumentos para tentar fazer perceber que fotografias no bacio se calhar até são as melhores para se colocar em algo como o facebook. (devia existir uma «wave» só para estas, com o nome "eu no bacio" - a saga). Após matutar, lá pegou no telemóvel e ainda sentado no sofá, fotografou as imagens e acabou por escolher publicar todas, inclusive a do bacio.


As reacções às imagens encontrei mais tarde, quando abri o meu facebook. Não gostei do que encontrei. Sinto sempre algo estranho, uma espécie de tristeza, quando encontro as suas publicações. Sei que não são genuínas, não representam a verdade. No texto que acompanha as imagens dá a entender que se esforçou para achar as fotografias e que escolheu publicar todas porque «faz bem recordar». E isso me dá um certo incómodo, pois sei que se está a borrifar para as fotografias ou para as recordações. Quem teve de encontrar fotos fui eu e a sua indiferença é tal que inclusive perguntou-me isto, quando lhe levei as imagens:

-"Tens a certeza que este sou eu?"
-"Sim, és tu. Mas tu não te reconheces nas tuas fotos de bebé?"
-"Não."

Portanto, eu podia dar-lhe a foto que quisesse, do bebé que eu quisesse e dizer que era ele que estaria tudo bem. Talvez devesse ter feito isso. Porque assim seriam os outros, os que se lembram e realmente sentem saudosismo e nostalgia por tempos idos, os primeiros a dar conta do erro e a chamar a atenção. 

Nos comentários ele usa a minha opinião sobre a fotografia no bacio como se fossem palavras suas. Escreveu algo como «que boas lembranças», quando eu sei que nada daquilo lhe diz coisa alguma e está a borrifar-se. É tudo falsidade. É um parecer por aparecer, um aparentar, é algo que tenho dificuldade em apreciar mas que tenho que admitir, com esta tristeza, que é o que a sociedade parece apreciar. Porque sei que este tipo de postura não é exclusiva, está generalizada. É uma tendência e um caminho pelo qual a sociedade está a optar. Usam-se máscaras, muitas, cada qual para cada ocasião. É-se aquilo que os outros querem que se seja. Já quase não existem pessoas que saem de casa e não colocam máscaras. Nem mesmo por computador. Não é desolador?


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