quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Temos de ser específicos... não é???!!!!


Tive uma epifânia.
Todas as pessoas desejam umas às outras «um bom ano».
Mas não especificam que ANO é esse.

Ora, como pode o gajo lá de cima saber? E vai que, por causa disso, são todos uma porcaria!
Por falta de capacidade em se ser específico.

Por esse motivo, eu cá passei a especificar a que ano me refiro. Pelos blogues que visitei, especifiquei! Não fosse o tipo lá de cima (ou lá de baixo, não conheço realmente o paradeiro dele) achar que qualquer um serve, mesmo um como o 2215, daqui a 200 anos!

Por isso cá fica, a 5 minutos da meia-noite, BOM ANO de 2015!
Mais especificamente: bom na saúde, bom nas economias, bom na sorte, bom no amor, bom no emprego, bom nas oportunidades, e cheio de felicidade.

Sei que estão todos neste instante agarrados às minhas dactilografadas palavras mas agora vão lá pegar nas passas, segurar na taça de champanhe e, que nem histéricos, acolher o 2015!!!



terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Mãe de uma adolescente

Não sou mãe. Mas já senti "aquela" vontade de o ser. Foi há 16 anos.

Fico por vezes a imaginar como seria a minha vida hoje, se tivesse tido uma filha há 16 anos. Tenho praticamente certeza absoluta que seria incomparavelmente melhor! Mas não é sobre isso que quero agora falar. Não é nada sobre mim, mas sobre a minha ideia de como um adolescente de 16 ou 22 anos devia ter sido preparado ao chegar a esta idade.

Ultimamente convivo com frequência com raparigas na casa dos vinte e poucos anos e surpreende-me o tipo de conversas que gostam de manter, a maioria algo fúteis, ainda infantis. Quando alguma conversa se torna "mais séria", indubitavelmente vai «desaguar» aos pais: pois é quem os sustenta e toda a sua experiência de vida, inclusive a doméstica, ainda se limita a esse universo. Demonstram também em frequentes ocasiões aquela impaciência juvenil (querem tudo para ontem), alguma imaturidade, insegurança, arrogância, infantilidade e "ignorância"- no sentido de que sou capaz de perceber o quanto desconhecem da percentagem de obstáculos e contrariedades que a vida lhes reserva, as dificuldades e decepções que os sonhos altos que mantêm ocultam como nuvens. Mas não adianta falar, porque só o tempo lhes pode ensinar todas e quaisquer preciosas lições.


Também já tive 20 e poucos anos. Sei que também era imatura. Não tive tantos luxos, viagens, automóveis, tecnologia de ponta- tive luxos diferentes. Mas a sociedade evolui tão rápido, as crianças desenvolvem-se à velocidade do progresso tecnológico e, contudo, ficam mais atrasadas noutros aspectos, que são também importantes.

Se tiverem de gerir dinheiro, fazem-no, mas o facilitismo com que arranjam dinheiro que não trabalharam para obter e que, em caso de o desejar, podem obter mais rapidamente e sem grandes sacrifícios, as faz ter uma noção que as coisas se obtém com essa facilidade. Até uma coisa que é tão rara nos dias de hoje, mais ainda nos últimos anos: um emprego de sonho.

Portanto não sabem realmente o que custa trabalhar até conseguir «pagar uma viagem a Londres» do próprio bolso. Pode-lhes parecer algo pequeno, por estarem habituados a viajar com os pais para várias partes do mundo, mas irão descobrir mais adiante que esse desejo não está ao alcance de todos que o acalentam. Porque existem prioridades, coisas tão simples como as contas e o supermercado. Se eles, sozinhos, serão capazes de atingir aquele nível de conforto monetário é uma incógnita. Mas pode-se dizer que as coisas não estão e nunca estarão fáceis.

E é aqui que a «porca» torce o rabo. Sou a favor de uma educação mais "à antiga". Gosto quando uma criança é educada desde cedo a ajudar em casa. E a trabalhar. Quase que isso não existe mais. E quando existe, vem com uma «compensação monetária» ou de outra espécie. No que respeita a ajudar nas tarefas da casa, considero que isso faz parte da rotina familiar, não é algo que deva ser recompensado com dinheiro como se de um favor se tratasse. Um filho não é um empregado, que limpa o que é dos outros e depois vai embora, devidamente remunerado. E é nestes pequenos «detalhes» que acho que os pais de hoje em dia por vezes falham.

Adolescentes com automóveis também não é algo muito difícil de ver por aí. Há uns anos começou a ser mais comum ver jovens, que ainda não ganham o seu sustento, ainda estudam e dependem totalmente dos pais, já a conduzir as próprias viaturas. Em alguns casos, automóveis zero quilómetros, ou quase. Talvez seja muito facilitismo.

Nem tudo tem de ser negativo para o jovem educado com tais regalias. Existe uma parte do jovem "futuro adulto" que beneficia deste "acesso" precoce a recursos típicos da vida adulta e independente.
Estar em contato com  determinadas características do universo adulto vão mentalizar e preparar o jovem para essa realidade futura. Mas o que me parece problemático é que é o lado quase "final" desse lado adulto que os jovens de hoje estão a experimentar. Aquele em que as coisas já são possuídas antes de serem conquistadas.

Pôr os jovens a trabalhar não é tão importante quanto os deixar estudar e os sustentar a um nível muito, mas muito dispendioso. Pagar o aluguer de uma casa, pagar as prestações de um carro, pagar a gasolina e portagens desse carro, pagar as propinas dos cursos, as roupas, os telemóveis, as viagens. Ter um automóvel e saber gerir a gasolina e ter consciência da responsabilidade é, sem dúvida, uma etapa de enriquecimento pessoal. Mas saber dar realmente valor, o adolescente que não trabalha para se sustentar, não sabe. Conduzem os automóveis sem grande preocupação com a "preservação". Dão cabo das caixas de mudanças, abusam do acelerador e travão, fazem manobras arriscadas que por vezes danificam o veículo. E o fazem com preocupação mas também alguma leveza, simplesmente porque NÃO SABEM o quanto de trabalho é necessário sair do «couro» para se obter um automóvel. Quando o descobrirem vão dizer: "Ah, os meus pais! Como conseguiram?".

Com isto quero chegar a um só ponto: se tivesse sido mãe naquela altura teria agora um adolescente com 16 anos. Ia gostar de o preparar "melhor" para a vida. E a vida é trabalho. Se ele se sentisse compelido a isso, ia gostar de o ver a trabalhar, a ganhar o seu sustento. Com essa idade eu já tinha essa vontade, pelo que se assim fosse também para ele, não vejo mal algum. Continuaria a fazer o que fosse possível mas ia querer que fosse ele a conquistar as suas principais metas, quase sozinho ou financeiramente sozinho, tendo-me a mim para o apoiar e orientar, para ser fiadora, para emprestar, pagar os estudos, o que fosse, mas de resto ia querer ensinar-lhe a entender que é benéfico para si também contribuir com algum, que foi uma lição que os meus avós foram forçados a aprender na tenra idade: trabalhar é a própria vida. Ia gostar que o meu filho/a fosse como um potro ao nascer: logo cedo aprende sozinho como se manter de pé.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Presentes de Natal - vou desbobinar tudo


Tenho uma família pequena, estendida à dos cônjuges são umas 20 e poucas pessoas, e todos os Natais costumo presentear todos. Este ainda não foi a excepção. Ofereci 16 presentes, um para cada pessoa que estava debaixo do teto de convívio natalício, fossem casais ou crianças. Recebi seis presentes. Um por cada "parelha". Por exemplo: uma família de três recebeu três presentes de mim, mas ofereceu apenas um. Também tenho quem todos os anos leve, mas nunca deixe. O que me faz pensar muito sobre as convenções. Como são rapazes e solteiros -ou melhor, vivem como se casados mas não foram à igreja nem ao civil dizer o «sim» (ao contrário dos outros), ainda se julgam abrangidos pela "lei" natalícia das crianças que, não sendo independentes nem tendo fonte de rendimentos, recebem mas não se espera que ofereçam presentes, a não ser por intermédio dos dois pais. Não sei que «convenção» dita que jovens adultos a viver na casa dos pais não têm de oferecer presentes de Natal mas devem receber, nem sei que convenção dita que jovens adultos a viver fora da casa dos pais porém não formalmente casados, de estado civil «solteiros» não têm de oferecer presentes a ninguém, mas se espera que recebam. Não sei quem «inventou» estas convenções mas sempre fui uma excepção à regra e agora começa a incomodar-me que mais ninguém o seja. Após todos estes anos, já são cerca de 20, começo a interpretar tudo isto como oportunismo. A meu ver não passa de sovinice.

Não tenho muito dinheiro, nunca tive um salário muito elevado e infelizmente já estive desempregada  muito tempo, sem receber tostão algum da Segurança Social porque trabalhei a recibos verdes. Desde a adolescência que adquiri o hábito de pegar numa qualquer quantia que tenha economizado e compro presentes a pensar em todos. Ou então faço alguns, também levando em consideração ada pessoa. Costumo gastar entre 120€ a 180€ na altura do Natal. Não me perguntem no quê - tento ser poupada porque é de minha natureza, mas quando vou a somar o que já foi gasto, surpreendo-me quase sempre. Este ano tentei economizar, como penso que toda a gente fez, e na sua maioria, ofereci doces caseiros. Um gasto mínimo em materiais e a oferta de algo que serve de alimento - que vai passar a ser a categoria que vou querer privilegiar. Ainda assim os gastos se mantiveram na referida escala monetária.

Agora vou falar do que recebi. Dos meus pais, como sempre, recebi com generosidade. Dos seus muitos defeitos, serem sovinas na altura do Natal não é certamente um deles. Aliás, se tiver de apontar alguma crítica é que deviam pensar melhor antes de se porem a comprar indiscriminadamente. O quanto gastam por Natal pode variar entre os 500€ e os 1500€! Este ano talvez tenham arrebentado o «escalão» e isso preocupa-me, pois só eu sei que têm dívidas ao banco - de valores mínimos divididos por muitos e muitos anos, mas a vida não está a facilitar nada a ninguém e eles não estão a alterar os hábitos de consumo de acordo com a nova realidade.

Depois recebi artigos comprados na loja dos chineses, que vinham com o cheiro típico e tudo. Artigos tão baratos e banais que nem tinham etiqueta. Mas o pior, para mim que não costumava olhar «os dentes» dos cavalos, foi um livro. Eu adoro livros. Gosto de ler. E não me incomoda nada que me ofereçam livros em segunda mão, desde que bem conservados. Já ofereci uns, sem saber porque pareciam todos novos como se de stock se tratasse, adquiridos nessas feiras-do-livro ao ar livre. Mas na altura do Natal? Um livro usado seria o de menos, se não estivesse a ser passado como novo! Todo cheio de marcas de uso e manuseamento, com os cantos moles e um vinco numa das partes. Mas o pior mesmo, aquilo que não apreciei, é que nem sequer se deram ao trabalho de me oferecer uma história. Um romance, um policial, algo do género. Ofereceram-me "reflexões". Um conjunto de «ses» que não me interessam por aí além. E nem sequer consegui identificar a editora, acho que é uma edição personalizada editada por uma entidade. Fiquei desapontada com a comprovada sovinice. Está certo que se «recicle» presentes, mas que o façam com coisas de jeito. Com o que comprariam para vocês mesmos. Uma vela, um sabonete, um bibelou... novos ou com aspeto disso. Se vos dessem como presente de Natal uma vela usada com o pavio cortado rente mas semi-ardido, não iam gostar, pois não? Então um livro sem história e com marcas de uso é a mesma coisa.

Já o ano passado esta mesma pessoa me surpreendeu ao me oferecer algo simples e sem serventia que obviamente não comprou ou se comprou não lhe custou muito. Sempre fui mais próxima desta pessoa que de outras e sei que é naturalmente sovina. Mas costumava também ser dada às «aparências», o que a fazia gostar de dar presentes de valor ou qualidade. Principalmente depois de casada, em que pode contar com parte do dinheiro do marido para determinados gastos. E por vezes fazia disso uma «competição» silenciosa entre ela e os irmãos. Porém, acho que deixou de sentir necessidade de aparentar ser generosa e abraçou de vez a sua sovinice. Creio até que seria ainda mais sovina, não fosse ainda estar casada, embora segundo ela a coisa ande quase para romper faz anos.

Eu sou poupada e gosto de reaproveitar e ser criativa muito antes disso virar moda ambiental mas ela é sovina mesmo, só pensa em não gastar dinheiro e é daquelas que passa anos a dar «toques» no telemóvel alheio mas não completa a chamada. E ainda por cima tem saldo, depositado pelo marido, mas não o quer usar. Eventualmente só o faz em caso de extrema necessidade.

Por tudo isto: os que não trazem presentes, os que trazem artigos baratos e os sovinas, este ano senti uma vontade tremenda de não dar nada a ninguém, a não ser a minha presença. E mesmo essa tive uma genuina vontade de poder partilhar com outras pessoas, que necessitassem. Andei à procura de voluntariado para o dia de Natal, ia gostar de me juntar a outros e ajudar a distribuir uma refeição, por exemplo, aos que estão mais sozinhos e precisam. Simplesmente achava que ia ser mais natal para mim se assim o passasse. Acabou que não foi mau. Numa casa onde se tem uma criança, o Natal anima sempre um pouco. Mas esta parte dos presentes... é melhor não olhar os «dentes do cavalo», porque nem todos te oferecem um que não os tenha podres.













sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Faz 10 anos eu sei... MAS.......


Sinto repulsa pela EXPLORAÇÃO que os media informativos fazem da tragédia provocada pelo tsunami de 2004. Sinto repulsa porque em 2005 pensei que, naturalmente, os media iam voltar a recordar uma tragédia tão recente, tão colada com o Natal. Mas não. Se fizeram algo foi uma menção. A importância que deram ao facto foi tão diminuta que pareceu-me de pouco valor.


Depois surgiu um filme-catástrofe, bem hollywoodano. E ontem, dia de Natal, a TVI exibe "O Impossível", um pouco antes das 18h, um novo filme sobre o mesmo. E tudo isto me repulsa. Estes filmes que, mesmo na tragédia, "acabam bem", porque se focam numa família que sobrevive. No final deixam escrito as estatísticas, os tais "230.000 mortos". LOL e lol. Péssimo timming, TVI.



Preferia que se focassem na fantástica recuperação que também foi anunciada (porque assim interessava os países mais afectados, cuja economia lucra imenso com os lucros do turismo). No ano seguinte já se tinha erguido quase tudo, como se nada, nenhuma água, tivesse passado pelo local. 

Preferia que se focassem no que foi feito para tornar possível avisar atempadamente as pessoas da presença de um tsunami. E que contassem que existiram falsos alarmes desde então e o que isso significou para a economia ou para a sociedade. Enfim, gostava que não usassem as mortes para as audiências nem para afagar o ego de alguns jornalistas que queriam tanto aparecer, mais do que noticiar. 


E porque me apetece mandar a hipocrisia ás urtigas!

A respeito disto, que desencadeou uma onda de indignação entre os leitores de notícias online.

Vamos lá ver o outro lado da moeda. 
Neste caso foi em França mas em Inglaterra já haviam adoptado medidas diferentes com o mesmo objectivo. Esta localidade a sul de frança, contudo, optou por uma medida que dá bastante nas vistas e não deixa margem para dúvidas: decidiram vedar os bancos públicos, que são confortavelmente lisos e com assento em madeira, com gradeamento, para impedir os sem abrigo de os ocupar durante a noite.  Segundo o responsável pela segurança local, a medida foi tomada devido a isto: «quase todos (os bancos) são usados exclusivamente por pessoas que ingerem álcool diariamente» «a decisão foi tomada depois de os comerciantes locais terem alegado que esse tipo de comportamentos afastava os clientes». Nas redes sociais não tardaram a condenar o gesto.

Mas vamos olhar para o outro lado da moeda, siiiimmmm??
É muito seguro condenar e julgar e ainda mais seguro manifestar, por escrito, palavras de indignação perante a indiferença para com os sem abrigo. Pessoas que já não têm onde morar, como podem privá-los de escolherem um qualquer canto para dormir?

Bom, se não o fizessemos seria um caus. Vamos lá colocar de lado a hipocrisia natalícia e vou já perguntar: qual de vós ia gostar de ter um sem abrigo todas as noites a dormir à entrada do vosso prédio? Com toda essa compreensão e empatia, o levariam para vossa casa? Dariam-lhe comida à entrada? Estariam de bem com a ideia de ter um ser humano ali, todas as noites, a dormir quando vocês vão a passar, a criar a sua "casa", impondo a sua presença, impondo uma interacção?

Só estou a querer ser realista e também chamar a atenção para outros lados desta história de todos nós. Até o mais bondoso do ser humano pode sentir algum incómodo perante algo do género. Não digo para afastarem estas pessoas à mangueirada - infelizmente já não somos bárbaros, somos (e daí o infelizmente) demasiado politicamente corretos e algo coquinhas. Podemos dirigir uma "mangueirada" a alguém de quem não gostamos, que vai a passar e está a jeito de ser humilhada com o jacto de água, mas se usar-mos o mesmo impulso para um sem abrigo, as reacções públicas são diferentes. O gesto é o mesmo. O sentimento com que foi feito, também.

Não sou o tipo de pessoa que vira sempre a cara a um pedinte. Posso conversar com a pessoa se a situação se propuser. Já dividi um assento de paragem com um sem abrigo - não me afastei com "nojo" nem devido ao cheiro. Por mim têm tanto direito de lá estar quanto outra pessoa qualquer e o meu direito de me afastar é também tão natural quanto me afastaria de outra pessoa qualquer, caso me sinta incomodada pelo cheiro ou ruído produzido. Música aos berros, fedor a álcool, fumo de tabaco ou falta de higiene, a presença de qualquer um destes factores (esqueci o dioxido de carbono concentrado, vindo dos automóveis) são razões que me levam a distanciar-me de uma paragem de autocarro. Há uns anos quando pela manhã, percebia-se que as paragens tinham servido de abrigos para alguém durante a noite. Mesmo os bancos sendo curvilíneos, curtos e de metal, alguém os usava como dormitório. Isso me perturbava mais do que ver. O imaginar era pior. E as paragens, na realidade, deixavam de ser frequentemente usadas por quem aguarda uma viatura. Porque o cheio nauseabundo é mesmo isso: nauseabundo. E a imundice no chão, os restos de comida, uma ou outra garrafa de álcool e o cheiro a urina são elementos que repelem as pessoas. Quem gostaria de se sentar à espera de um autocarro num local destes? As paragens já não são grande coisa por si só - desde que a publicidade se tornou a prioridade ao invés das pessoas. Se chover toma-se "banho", se estiver muito sol, é uma sauna que queima ao toque, tapam a visão da chegada do veículo... enfim, já de si são más. E já do seu uso normal, por vezes, o factor higiene deixa a desejar. Adicione-se isto, o stress do dia a dia e não se pode realmente esperar que as pessoas andem sempre sorridentes e afáveis, né?

Espigões anti-sem abrigo. Reino Unido

Por isso não se seja de hipocrisias e não neguemos que o conforto, a nossa comodidade é algo que faz parte da vida em sociedade. Saibam isto e saibam mais sobre o ser sem-abrigo. Há quem o seja por escolha. Poucos, mas há. E há quem se recuse a recorrer aos centros de acolhimento de sem-abrigos - porque os há. E havendo-os e podendo usufruir deles, porque haveriam de estar nos bancos públicos? A sociedade não é assim tão mesquinha que deixa as pessoas ao relento. As atira para lá, com indiferença. Muitas almas caridosas andam noites e noites a distribuir uma palavra de afeto, junto com uma refeição quente, uns cuidados médicos e uns agasalhos a estas pessoas menos afortunadas. Desde que o mundo é mundo que existe a caridade. Ser caridoso não é razão de vergonha nem de orgulho e receber caridade também não. Compreendo quem não queira ter uns tantos sem abrigo à sua porta - neste caso, numa rua comercial. Tudo é uma bola de neve. Este simples facto pode levar um negócio à falência e colocar o antes proprietário de algo na rua, como sem abrigo... Vivemos em sociedade e esta é muito exigente para o cidadão mediano. Quem não vive nos extremos, na pobreza ou riqueza, tem de ser um cidadão exemplar e cumpridor, é exigido, aos medianos, mais do que aos extraordinários. Se os muito ricos conseguem montar mansões de quilómetros, com vedações elétricas altíssimas e sistemas de segurança de alta tecnologia, também estão a praticar exclusão. A diferença entre as grades de um banco público e as de uma vedação de uma mansão não são muito diferentes. A sociedade permite que se coloquem grades para separar os ricos dos restantes. Permite que se coloquem grades a proteger jardins que se querem só para olhar (felizmente não é muito o caso português). O quotidiano está repleto de actos de exclusão, de «pequenos recados» que informam o indivíduo se ele é ou não desejado em certos locais. Querer afastar pessoas sem nada, com falta de muita coisa, por serem prejudiciais ao negócio também é algo social. A diferença é que muitos se preocupam com aqueles que são carenciados, muitos tentam, com paciência e sabendo que o tempo é o factor principal, retirar das ruas estas pessoas carenciadas e estudam, querendo cobrir todos as possíveis falhas e fragilidades, a possibilidade de lhes restaurar um teto, de forma a não existir um retrocesso. Mas há tetos que são infernais, e as pessoas optam por ficar sem eles... Também há tetos que são confortáveis, mas dos quais certas pessoas precisam se afastar independentemente disso. E existem aqueles que não valorizaram o que tinham e fizeram da vida de todos um inferno, debaixo do seu teto... que acabou por se desmoronar. Há de tudo. E tem de se compreender.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Jabardices porque me APETECE!


Isto de ser mulher tem muito que se lhe diga, ainda mais quando se vai a uma casa de banho pública.
Uma confidência: desde cedo - se não mesmo desde SEMPRE, o acto de urinar em privadas públicas é algo que faço de pé. Mas urinar de pé para uma mulher não é o mesmo que urinar de pé para um homem e não é só por causa do quão prático é o «equipamento». Um homem simplesmente desaperta a braguilha. A mulher tem de descer as calças... e expor-se. Não pode deixar as mesmas caírem até ao chão - o chão de um WC é a coisa mais badalhoca que existe, imunda, cheia de bactérias e urinas infindáveis misturadas com porcaria de solas de centenas de sapatos.


Uma mulher tem de ser capaz, portanto, de conseguir equilibrar as calças descidas até os joelhos, esticando ao máximo a roupa entre os mesmos sem relaxar na posição e devido ao volume de tecido dobrado e concentrado, é também preciso segurar com as mãos. Tem ainda que puxar para cima a bainha das calças, para que ao descer a parte de cima até aos joelhos, a de baixo não vá rastejar no chão imundo. Ao mesmo tempo que tem os joelhos na posição "estica", segura as calças e reza para que a bainha das pernas não desanque, tem de se posicionar para acertar bem dentro da retrete sem nunca tocar na berma da tábua ou do vaso sanitário nem ao de leve, nem com a roupa, nem com a carne. Ao "aliviar-se", tem de controlar o fluxo para não existirem "salpicos" que, na pior das hipóteses, pode atingir a própria roupa, o que é uma catástrofe por si só. Esta posição tem de ser encontrada entre um equilíbrio de coisas em simultâneo: são as calças que não podem tocar no chão, é a roupa descaída, em destaque a íntima, que não pode tocar na parte externa da sanita, são as mãos que estão a segurar as calças e já têm de estar preparadas com um bom pedaço de papel higiénico pronto a ser usado. Entre tudo isto existe um outro factor altamente desconcertante que dificulta toda a complexa operação. O cabelo. Se a mulher tiver o cabelo comprido e solto, ao posicionar-se para urinar o mais certo - aliás, inevitável, é que tenha a vista obstruída por uma massa de cabelo que insiste em lhe tapar as vistas, tudo para atrapalhar que se atinja o alvo com uma precisão digna de colocar inveja num profissional de arco-e-flecha, como o mítico William Tell.

Mas tem ainda uma outra "merda" mais chata... e totalmente "badalhoca" - que de badalhoca não tem nada mas que sendo um tema ainda um pouco TABU o faz "badalhoca". É que uma mulher quando depilada lá em baixo tem maior dificuldade em controlar a porcaria do jato dourado. E pronto! Jabardice partilhada!! :D


FELIZ NATAL

domingo, 21 de dezembro de 2014

Vizinhos Novos

Tenho novos vizinhos, com três crianças. Em poucas horas já sabia o nome de cada uma delas, por os escutar a chamar uns aos outros entre risadinhas, brigas e brincadeiras. A voz do homem também é raro não se fazer escutar. Quase sempre a tentar disciplinar os miúdos aos gritos. 

Quando saio do trabalho e me imagino a chegar a casa não é nada disto que idealizo. Penso, ingénua, que finalmente me vou afastar do ruído, do barulho, da música alta e de tudo o que já "encheu" o meu dia, acabando por atormentar as últimas horas. Penso que vou ter silêncio, só mesmo interrompido se o desejar. Mas essa "casa" que idealizo nunca a tive realmente. O estranho é que, se um dia a vier a ter, já não será na juventude mas no meio da velhice. Julgo que por essa altura ou precisamente nessa altura, é que ia apreciar um pouco mais de vida e dinâmica à minha volta. E não a vou ter.

A vida está toda lixada!

domingo, 14 de dezembro de 2014

Este mundo condena-se ao viver em função da JUVENTUDE



Tenho 30 e muitos anos. Pode não parecer, aos mais novos, mas a realidade é que, com esta idade, já se sentem muitas diferenças comportamentais da sociedade para contigo.

Pequenas e ténues coisas, outras nem tanto.

Numa passagem por um centro comercial, notei nas imagens publicitárias das lojas de roupa. Reparei nos manequins nas montras. O objectivo é VENDER ROUPA. Mas a imagem que projectam é toda direccionada à juventude. O rosto do rapaz no fato da loja é muito jovem. Os rostos femininos também. Os manequins, sem rosto. Para não terem idade. Mas com silhuetas e formas finas e elegantes, tão próprias da juventude e tão difíceis de manter, às vezes, ainda na casa dos 20 e muitos anos. Os funcionários destas lojas são na sua maioria todos jovens. Muito jovens, rapazes e raparigas em idade escolar. Toda a sociedade consumista está virada para a juventude. O que é péssimo. 


Lembram-se de quando contei aqui sobre o episódio do "Bom dia" no MacDonalds?


Pois percepções de trato diferente conforme a aparência têm-se multiplicado.

Fui a um balcão de maquilhagem de uma loja num centro comercial, daquelas que têm um funcionário a maquilhar alguém que, por coincidência, quase sempre é muito jovem. Aproximei-me da funcionária e a jovem, que maquilhava outra muito jovem, disse-me que ali não faziam maquilhagem. Fiquei intrigada. Os despojos estavam à vista: três pincéis sujos com base e pós pousados na bancada, um deles tinha acabado de ser esfregado no rosto da rapariga muito jovem e exageradamente maquilhada. O batom da cor vermelha forte que explodia nos lábios da rapariga também estava ali e as sobrancelhas recortadas e pintadas, junto com os olhos bem maquilhados contrariavam a informação dada. Podia estar a abrir a excepção para uma amiga, certamente. Mas algo na forma como a informação foi transmitida me pareceu intrigante. 


Na universidade distribuíam aos estudantes que por ali passavam um novo produto a ser lançado no mercado. Não pude deixar de reparar que se dirigiam aos muito jovens e que, pessoas mais velhas como eu, não eram abordadas. Parei para observar e aí fui contemplada com uma "amostra" do produto. Mas não me facultaram o saquinho que continha outras ofertas e que estavam a distribuir às jovens ao meu lado. Estive quase para perguntar o que continha o saco e se tinha direito a um, mas como não calhei passar ali para "sacar" algo grátis, não dei importância e segui em frente. Uma vez na sala de aula começo a ver colegas a entrar, todas sorridentes, com aqueles sacos na mão. Garantiram que lhes deram os sacos sem problemas e estavam felizes porque cada saco continha várias guloseimas como pastilhas, rebuçados, bombons, chupas e gomas. Nisto uma outra colega responde que, não sabe porquê, a ela não lhe deram nada. Estava no grupo, passou pelo local, mas não lhe deram nada e achou isso estranho. Essa colega não é tão jovem quanto as outras, tem trinta e muitos anos

Perante isto, o que é que uma pessoa pode pensar?
Se é assim na casa dos 30, é assustador imaginar como será aos 40 ou mesmo os 50.

Existe descriminação de idade SIM, esta sociedade consumista está a condenar as pessoas. Fá-lo todos os dias, subtilmente, através da publicidade, através das acções de promoção, através da sua obsessão pelo "target" jovem. Fica-se a sentir que se é menos importante, menos útil e menos válido depois da juventude ficar para trás. Estamos todos a dar um tiro no pé e a condenar os nossos filhos a só serem apreciados enquanto jovens e belos. Por quanto tempo é que se permanece tão jovem? Por um sopro de vida! E que valor se dá aos restantes muitos e longos anos? 




quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Não gosto desta "solidariedade"

Procuro um evento solidário que me satisfaça. Quero doar o meu tempo a alguém - é esse o tipo de solidariedade que pretendo facultar. Navegando "por aí" em busca de tal agulha num palheiro, deparo-me com diversas campanhas de solidariedade. No facebook da ABRAÇO - cujo site achei insultuosamente vazio de informação, deparei-me com esta do vinho:


Fez-me pensar - por uns minutos. Mesmo sem perceber se o valor de compra faz referência a um pack ou a uma garrafa individual, com ou sem portes de envio, concluí não fazer muito sentido dar 15€ por algo cujo valor solidário é de apenas 3.50€. Está certo: recebe-se uma garrafa de vinho (é preciso pagar os produtores, os embaladores, etc), daí o valor solidário cerca de 1/4 do valor total. Mas sempre me parece fazer mais sentido doar a quantia total ddirectamenteao destinatário. Se o objectivo é doar, para quê produtos intermediários? Pretextos como casinhas anti-stress ou bonequinhos? Neste caso trata-se de vinho mas para mim é de pouca utilidade prática, pois praticamente só conheço abstémios.


Depois desta "passei" pelos Peluches IKEA. Cada venda representa a doação de 1€ para a solidariedade.  Para quê pagar 10 euros por um boneco se apenas 1€ é solidário? Mas o que se está realmente a apoiar? O combate à violência e pobreza infantil ou o incentivo às vendas de Peluches da marca?

Estes "dilemas" são constantes. Tudo parece-me algo contraproducente. Embora admire e entenda, até certo ponto, o quanto este género de coisa pode facilitar a obtenção de receitas caridosas, já que as pessoas gostam de comprar, parece-me também que muitos se aproveitam para tirar proveito próprio, não só para vendas como para operações de marketing e publicidade. E acho isso pouco ético ou bonito. Além de que não me parece sensato o "consumo" de tanto produto «beneficente». Se o objectivo for apenas de consciência social, de ajuda ao próximo, porque não "dispensar" os subterfúgios? Claro que, a menos que já se vá comprar aquele peluche, ou se precise mesmo de vinho, não vejo porque não optar por um destes. Mas o chato é que não são uns peluches quaisquer que as crianças querem, nem os que apreciam vinho gostam de uma marca fora das suas preferências. E assim não me parece eficaz um «desvio» aos gostos pessoais com fim caridosos.



sábado, 6 de dezembro de 2014

To who it may concerned...

Caros bloguistas,
nunca pensei escrever um post destes, mas vou escrever. Quero agradecer os comentários que recebi perguntando pelo meu estado de espírito. É verdade que os meus últimos posts têm uma nota qualquer de tristeza. E é verdade que andei profundamente pelas catacumbas da desolação. Mas como em tudo, consegui emergir. 

Meu olhar está agora iluminado 
De lá para cá não actualizei este blogue, primeiro porque não tenho tido assim novos assuntos para cá colocar. Depois porque me tenho mantido ocupada com um novo projecto - o regresso à universidade - que me tem proporcionado algumas novas alegrias. 


Se pudesse contar tudo, contava, tenho a certeza que alguns iam ficar com muita vontade de experimentar o mesmo que estou a experimentar. Se tiverem tempo e 5000€ para gastar, daqui a uns meses posso vos contar e dizer se vale a pena enveredar por esta "aventura".


Por enquanto a experiência tem sido mais positiva que negativa. Excelentes pessoas, pessoas bem educadas, cultas e com muito assunto - tudo o que estava a precisar! Nem daria para perceber que faz apenas uma semana que por mim podia ter acabado no mundo... Presentemente não é mais assim, voltei a ser "eu", a que não desiste. Seja qual for esta ilusão a que todos nos agarramos para nos tentarmos convencer de que a nossa passagem por esta vida faz sentido, estou novamente nesse barco. Iuppy! 

Ah, e se não nos "vermos" até lá, desejo a todos uma boa quadra Natalícia.