sexta-feira, 22 de abril de 2016

O comentário que despoletou reflexões


Uma mãe de quatro filhos, o mais velho com cinco anos, foi presa sentenciada a vida perpétua atrás das grades, por ter sido considerada responsável pelo falecimento de uma quinta criança, de quatro anos, que estava a querer adoptar. 

O menino, filho biológico de drogados, já havia andado por outros lares no sistema de adopção "experimente e se não estiver satisfeito, devolva" que os americanos têm. Por isso exibia comportamentos típicos de crianças sem raízes e afetos. Fazia birras, por vezes era agressivo - o natural. Mas esta criança também apresentava um atraso no crescimento, nas capacidades cognitivas e no comportamento. Não sei até que ponto o facto de ter sido concebido e desenvolvido exposto a substâncias ilícitas duras veio a influenciar mas ele também exibia um comportamento estranho: Tudo o que via, metia à boca e comia. 

Menina com PICA come carpete

Na América a sigla para esta desordem é PICA. Muitas pessoas sofrem deste mal, umas comem vidro, lâmpadas, pedras, papel higiénico, areia, paus, cabelos... a lista é infindável. Julgo que são comportamentos ligados à ansiedade mas ainda se está por saber se terá também algum factor biológico, como a falta de algum nutriente.

Ora, esta família precisava estar sempre a supervisionar a criança, pois além de qualquer coisa lhe servir para enfiar pela boca, não se saciava nunca. Nunca parava de comer. Comia até vomitar, se acaso lhe deixassem. Ficava tão cheio que tinha de vomitar por não ter mais espaço para armazenar coisas. Mas a compulsividade de ingeri-las não cessava com o estômago cheio.

Casos reportados da desordem PICA pelo mundo
(a página foi bloqueada pelo anti-virus acusada de piching
pelo que não sei a origem destes dados
)

Numa ocasião esta mãe necessitou de uma recuperação e decidiu, por segurança, instalar uma câmara de vigilância no quarto do filho adoptivo para poder tomar melhor conta dele e certificar-se que não ficaria em risco. Acho normal. Afinal, existem os baby-monitors, que transmitem audio, ela só fez um upgrade, de resto já muito usado nas creches para que os pais no emprego possam ver os seus filhos.

Um dia ela distrai-se diz que por uns segundos e reparou que a criança estava diferente. Desconfiou que ela tinha vindo da dispensa mas não viu nada de mais. Rapidamente a criança começou a dizer que sentia frio e vomitou. Normal. Crianças têm estes sintomas. Mas o quadro rapidamente piorou e no espaço de horas levaram-na ao hospital. Onde veio a falecer. As análises ao sangue determinaram que os níveis de sódio (sal) estavam elevadíssimos. 

Pedaço de pedra retirado do estômago de paciente com PICA
Ela e o marido foram imediatamente proibidos de ver a criança e tornaram-se suspeitos de morte intencional. O resultado da investigação já contei: a mãe foi presa por suspeita de ter causado a morte - se não por oferecer fonte de sódio à criança, por não ter de imediato chamado uma ambulância. Mas a questão é: porque haveria ela de chamar o 112 por sintomas tão comuns que não indicam perigo de vida? É que nem os médicos perceberam o que estava mal. Tanto foi que lhe administraram uma solução de sódio! Exatamente o veneno que o estava a matar.

Adiante que esta história vai mais longe. Enquanto estava a ser julgada ela soube estar grávida, deu à luz uma menina. O seu sexto filho - como veio a dizer. E depois continuou presa. Para toda a vida. 


Sete anos se passaram e novos factos vieram "a lume". O pediatra que acompanhava o menino disse ter contado uma versão diferente à acusação e à defesa, mas estes não o chamaram a depor. O mesmo aconteceu para um especialista em morte e envenenamento por sódio. Este veio depois a afirmar que dificilmente o resultado seria outro, pois é tão raro alguém envenenar-se com sódio que nem os médicos esperam um quadro desses. E por muitos procedimentos que pudessem fazer, o resultado com certeza seria a morte.


Eu achei esta parte assustadora! Não sabia que o sal mata - mas mata mesmo! Andam por aí assassinos a comprar arsénico e outros venenos para o sal - uma coisa que existe em todas as dispensas e todas as cozinhas, ser tão eficiente!!

Assusta, não é?
Mas a realidade é que a criança, que sofria de PICA, muito provavelmente ingeriu uma quantidade exagerada de sal e condenou-se. A mãe foi considerada culpada, mas provas que são boas - provas de negligência, de que foi ela a dar o sal, que fingiu não ver, que não chamou uma ambulância porque o queria morto - tudo isto que foi alegado e que foi suficiente para a condenar, não foi comprovado.

Foi um caso muito mal defendido. E uma mulher com probabilidades de ser inocente e tantos filhos para criar, foi condenada a uma vida atrás das grades. Marido e filhos condenados juntos.


Sete anos depois, com estes novos depoimentos, o Estado do Texas anulou a condenação e ela foi posta em liberdade. Pode abraçar pela primeira vez a bebé que deu à luz, agora com sete anos. E o filho que na altura tinha cinco, pode, aos 12, voltar a sentir o abraço da mãe. Fora os do meio... Uma história deveras triste. E mais triste ainda foi saber que a acusação não ia desistir da acusação de homicídio e pretendia levar o caso novamente a tribunal!!

Mas por mais espantoso e revoltante que esta história possa parecer, pior foi ler os comentários deixados no vídeo deste programa. O primeiro foi o que despoletou uma série de reflexões em mim.

Dizia mais ou menos assim: "Assassinou o filho adoptivo e é posta em liberdade.... Apelo à rebelião.... Eu, cidadão refugiado". 

O indivíduo que colocou este comentário auto proclama-se "Cidadão «Vingador» contra a Tirania" - é este o seu nome. O link para o seu «cantinho virtual» youtubiano pode ser visto aqui nesta imagem, onde ele se descreve.

Tem alguns vídeos de segundos postados, não os fui ver, mas prestei atenção aos títulos e descrições. Temas como ateísmo, racismo, "os brancos são pessoas geneticamente defeituosas" e outros títulos. 


Numa primeira impressão fiquei a pensar: Este indivíduo será mesmo um refugiado? Depois pensei: Deve ser alguém a fazer-se passar por refugiado para meter mais lenha na fogueira e atear ódios para com os refugiados.

Seja com qual a verdade, muitos outros comentários que se seguiam partilhavam uma cartilha semelhante. Ela era culpada, ela era assassina, aquilo eram lágrimas de crocodilo, sonsa cristã, jamais devia ser solta, etc.

Se consumir sal, prefira o marinho
Fiquei em choque. Embora de facto a 100% ninguém possa afirmar que esta mulher não deu sal para a criança comer, é altamente improvável tê-lo feito. Acho de um terrorismo tremendo, após todos os factos, após se confirmar que a criança sofria de PICA, de se ver como esta mulher era cuidadosa, como eles viviam, a tolerância que tinham, a vontade de criar uma família grande... a falta que ela fazia àquelas crianças privadas de mãe, um pai privado de esposa... Que tantos preferissem metê-la de volta na cadeia a deixá-la ser livre! 

Entre tantos assassinos, violadores, pedofilos em série, tantas pessoas que são indiscutivelmente um risco para a sociedade, para qualquer indivíduo, é esta mãe o tipo de ameaça que querem colocar para sempre na prisão? 


E isto trouxe também à memória o recente caso do tribunal Norueguês dar razão a um assassino em série, responsável pela morte a sangue frio de 77 jovens encurralados numa ilha, no seu direito de manter contacto com os seus simpatizantes, ó sei lá o quê! Direito? Será que não estamos a esticar a corda no que respeita a direitos para indivíduos que cometem actos tão hediondos?? E é uma mãe de cinco que querem colocar na cadeia??

Quase que retira a fé na natureza humana!

Mas depois li mais comentários, até em maioria, e estes restauraram a minha fé na humanidade. Existem sempre alguns estúpidos, mas entre esses aparecem pessoas sensatas. Mais abaixo uma mulher, toda vestida com trajes islâmicos, defende que o Estado devia indemnizar a família e deixá-los viver em paz. Nada daquele espezinhar da mulher, nada de atirar «pedras», como me pareceu ser o caso do primeiro comentário, o do «refugiado». Mas que serviu para me colocar a pensar "o que pensaria um refugiado? O que faria um refugiado?".

Compulsão para ingestão de terra

Outros comentários sensatos surgiram. "Eu também fui adoptada por um tempo e vi muitas crianças a agir assim, é normal"; "Um primo meu tem PICA e ele come mesmo tudo, não é possível estar sempre a vigiar, e meus tios só o têm a ele como filho", "O sistema judicial americano no seu exemplo mais avassalador de condenar a todo o custo não importando a informação que venha ao de cima"; "Nem devia ter passado um único dia na prisão, a justiça americana é uma piada!".

Sim, a fé na humanidade está restaurada. A fé na justiça é que fica um pouco abalada...



quarta-feira, 20 de abril de 2016

Foi-se metade

Este post já era para o ter feito há mais tempo, perto do Natal. Adiei e depois quando me preparava para partilhá-lo surgiu nas redes sociais e imprensa o vídeo da Sofia Ribeiro a cortar o cabelo. De alguma forma não quis qualquer associação de uma coisa com a outra.


Quem me lê há algum tempo deve lembrar-se que confidenciei sofrer de alopécia. Apesar de prolongada nos anos a condição ainda não era perceptível para quem se cruzasse comigo na rua. Tinha até pessoas que me elogiavam o cabelo, desconhecendo pelo que estava a passar. O ano passado, logo após o pico do verão terminar, esta condição fez-se sentir em força. Já perto do Natal senti outra redução gigantesca. Perdi metade do que tinha nos primeiros meses do ano, quase que posso garanti-lo.

Não sei se sabem como é, mas posso tentar descrevê-lo. O cabelo solto está por todo o lado. Aparece nas roupas quando as vestes, aparece quando as tiras, aparece quando te calças, aparece nos lençóis, e, claro, quando te penteias. Cada vez que passas os dedos pelos cabelos, sai sempre fios. Nunca pára. Nunca aquele fio é o último a desprender-se. O volume que tenho hoje só tem réplica com o de antes se dobrar o cabelo que me resta em cinco ou seis partes. 

E aqui está uma imagem de uma ocasião no Natal passado em que uma pequena escovagem que logo travei resultou nesta quantidade de cabelos soltos:

(Agora já sabem que sou morena, ehehe!)

Desculpem, tentei tirar uma foto "artística" de fios de cabelo numa escova com alguma beleza no enquadramento, mas foi isto o melhor possível. Afinal de contas, todos os cabelos são lindos quando reluzentes e presos na cabeça. Damos-lhes festas, beijinhos, algumas pessoas não conseguem parar de lhes tocar mas quando se soltam... Para a maioria são quase tão repulsivos quanto uma barata.

Sempre tive muitos cuidados nesse aspecto. Retiro todos os fios soltos e saio à rua com o cabelo bem preso, dificilmente cai quando está bem preso. Só cai quando solto ou quando escovado. Aí é que se dá a grande "avalanche" de queda de fios.

Confesso que este ano receio bastante a chegada do fim de verão. Aquela altura do ano em que tudo começa de novo... É que já não resta mais nada para ser levado que não vá, desta vez, fazer uma substancial diferença no visual. Da próxima vez que o cabelo cair desta maneira, será definitivo. Diante da quantidade diminuta que me sobrou, grandes pedaços carecas de couro cabeludo vão dar o ar de sua graça, com quase toda a certeza. A «sorte» que tenho mantido ao longo destes anos é que ele cai mas os fios continuam bem distribuídos. São poucos, cada vez menos, mas ainda falta a evidência da visibilidade de áreas com grandes carências de fios. Só esse detalhe ainda tem mantido oculto esta condição. Mas creio que não é sorte que me vá mais acompanhar.


Por vezes esta condição faz-me sentir deprimida, outras nem por isso. Desta vez é "nem por isso". Mas também, o cabelo parou de cair... quando recomeçar sei que vou ter momentos em que a depressão vai escalar! Hoje gostaria de o cortar acima dos ombros, de lhe dar um estilo mas confesso temer o corte. Não por temer a tesoura porque isso nunca temi, nem mesmo agora. Mas por saber que dificilmente vou reconhecer-me. E essa nova pessoa, uma pessoa sem volume nos cabelos e quase sem fios, não sei como vai ser... vê-la. E ter de viver com ela. Para sempre. Voltar a ter o cabelo curto irá trazer, provavelmente, um pouco dessa tristeza que de momento quero evitar.

Ninguém sabe a causa da queda de cabelo. Eu acho que tem muito a ver com algo relacionado com  o se guardar para dentro sentimentos como ansiedade, depressão e stress. Há uns anos estava a trabalhar, o dinheiro entrava regularmente todos os meses, andava feliz com a vida, vi um anúncio de cuidados capilares e decidi fazer algo por mim. Fui consultar um especialista. Optei por fazer um tratamento. Fiquei feliz. Sabia que era a atitude correta, ainda que não tivesse garantias. O mais certo era apenas adiar o inevitável. Ainda assim, achei valer a pena. O custo do tratamento foi elevado para os meus rendimentos mensais mas não me custou mesmo nada ir às economias e tirar metade.


As pessoas mais próximas de mim censuraram-me pela atitude. As mesmas que há anos me torturam por não prestar muita atenção na aparência, por não cuidar de mim, como elas sabem cuidar de si. Essas pessoas diante de um gesto que lhes provava o contrário, disseram-me que o tratamento era para enganar idiotas e um desperdício de dinheiro. Com o mesmo dinheiro podia comprar um carro em segunda-mão, uma mota ou fazer umas boas férias! "Se fossem elas" a ter aquela quantia de dinheiro, gastavam antes «nisto ou naquilo». E incentivaram-me a parar de ir às consultas e a pedir um reembolso. Mas eu sou da opinião que cada um sabe de si, não acham? Para mim o que resulta numa sensação de bem-estar pode não ser o mesmo que resulta para os outros. O que acho ser dinheiro bem gasto pode não coincidir com os gostos de outras pessoas e vice-versa, mas a diferença é que não lhes vou atirar na cara que deviam economizar o dinheiro ao invés de o torrar numa pintura nas paredes e num sofá novo e não ter o suficiente para comer no mês que vem, por exemplo.

Aliás, esta postura negativista ainda contribui mais para um problema. Para alguém que guarda para dentro emoções negativas tais como a ansiedade, stress e depressão, este tipo de criticismo «manda abaixo» «faz o que mando» é exactamente o tipo de coisa que não se deve dizer a alguém que está a tentar fazer algo pela sua saúde. Acaba-se por ajudar mais na doença que na cura!

Na altura tentei argumentar, expor os meus pontos de vista. Independentemente das garantias, precisava dar uma oportunidade, preocupar-me e agir. Sentia-me tão bem cada vez que tratava de mim que isso enchia-me de generosidade. Fazia-me desejar poder providenciar o mesmo a outros. Cheguei a conjecturar levar um familiar que sofre do mesmo problema a uma consulta, mas essa pessoa negou-se sempre, insistindo que era vigarice.

Curiosamente, há uns meses percebi que as pessoas que, naquela altura, mais me criticaram, sofrem do mesmo problema e estão bem mais carecas que eu. Com largas exposições de calvice. Porque será que são as que também precisam as que mais mandam abaixo? O pior é que sei que elas estão bastante conscientes da sua condição e tentam vários truques para a disfarçar. Escolhem bem o shampôo que usam, sempre anti-queda, pintam o cabelo, fazem nuances, acrescentam extenções, detestam ficar ao ar livre sujeitas à brisa e ao vento. Temem não manter a apresentação do penteado e que alguém repare.


Li na imprensa que a Sofia Ribeiro está no caminho da cura e recuperação, e irá em breve regressar a uma novela. Ainda bem para ela. Não que tenha comparação - porque não tem - a doença dela é cancro e a minha é alopécia. Ainda que a minha seja embaraçosa, não a «trocaria» por a dela :P

O que me faz cair o cabelo é desconhecido, definitivo e irreversível. O que lhe fez cair o cabelo a ela e a todos que se sujeitam aos actuais tratamentos para combater o cancro é o tratamento em si, que é bastante agressivo. Mas uma vez curada, a pessoa recupera os cabelos e, pelo que me foi dito até por quem já os perdeu para se tratar de cancro, os cabelos crescem até mais vistosos que antes. Entre tanto mal fico contente que pelo menos haja a possibilidade desse benefício! É justíssimo.

Vou ter de me preparar para um futuro de calvice acentuada. Ainda sou «jovem», o que significa grandes mudanças num curto espaço de tempo. Assim que a menopausa se instalar - ela que muda tanto o corpo da mulher - as coisas só podem piorar - e muito. Às vezes penso que não vai fazer diferença. Aceito tudo o que a vida me trouxer. É a vida! É a própria condição de se estar vivo. Mas noutras vezes, principalmente quando noto como a sociedade trata os menos favorecidos, os menos jovens, menos atraentes, menos afortunados - isto me revolta e sinto-me deprimida.

Actualmente está assim. Sensivelmente 1/5 do que um dia foi.
Ainda «não está muito mal», certo?
Acho que não me incomodaria de cortar o que me restasse de cabelo para ficar careca. Acho - mas não sei ao certo. Talvez me habituasse à calvice. Talvez fosse gostar de usar perucas diferentes quase todos os dias (quando era adolescente desejava que fosse moda usar perucas para mudar de penteados com frequência). O que desconfio que iria incomodar mais seriam os olhares alongados ou assustados, as pessoas que passariam a deixar o assento do autocarro ao meu lado livre, as fofocas, as conjecturas pelas costas e as críticas das "tais" pessoas que não me iriam poupar, decerto.

É que a culpada pela calvice sou eu. Não sabiam?

Bem que a sociedade podia aceitar as diferenças, sem rótulos, sem julgamentos. Até aceito que se brinque com desgraças, que se brinque com os estereótipos, que se faça humor com a tragédia. Que se brinque com o preconceito, inclusive. Acho saudável. Mas desconfio não ser por aí que estamos a evoluir cá em Portugal, pelo menos.

Bom, o tempo dirá! E dirá já depois do verão...

Se fosse possível cortar assim.
Restarão fios suficientes?




terça-feira, 19 de abril de 2016

A propósito de um post no blogue do Observador...

A propósito de um post no blogue do Observador, num destes dias deparei-me com esta publicidade no facebook:

Por curiosidade, abri.
Trata-se de uma angariação de pessoas para se submeterem aos efeitos de uma nova droga, para fins de serem monitorizadas e servirem de cobaias humanas.

Uhmmm.... da última vez que ouvi falar disto foi na capa da revista Visão, onde o título sugestivamente perguntava se por muito dinheiro, se sujeitava a ser cobaia humana em testes clínicos.


Nesta «oferta», não existe nenhum pagamento. Nada. O que se oferece ao paciente é a incerteza dos efeitos do medicamento e, claro, consultas «gratuitas» - nem sequer o dinheiro para o taxi. Em nenhum lado li a palavra voluntários... A coisa está feita de forma a parecer que é uma oportunidade a aproveitar, uma oferta.

Mas oferta seria é se o medicamento já tivesse sido testado e a sua eficiência comprovada. 
O que pensam disto?

domingo, 17 de abril de 2016

Os perigos que por vezes cruzam o nosso caminho


Não devia mesmo assistir a documentários reais tarde de noite... Mas gosto ao menos de os ouvir no youtube, enquanto estou no computador a fazer outras tarefas. Também são assim, fazem tarefas em simultâneo? Comigo é quase sempre, ehehe.

Bem, mas numa altura em que a sociedade tecnológica evoluiu tanto, esta ferramenta que é a internet, assim como outras, são um pau de dois bicos. Tanto espeta de um lado como o outro pode ser empurrado para espetar em nós. E não é a única. Vivemos num mundo todo conectado. E isso pode acarretar perigos.

Num post anterior falei sobre o Boato e como este encontrou na internet um veículo de propagação que em nada fica a dever às capacidades de contágio de um qualquer vírus infectuoso. E nele partilhei duas histórias de stalking/perseguição obsessiva, uma presencial, outra à distância, envolvendo a internet.

Agora vou falar especificamente da obsessão com perseguição, para que os sinais sejam mais conhecidos. Fico a pensar que é informação útil para a neta de alguém, para a filha de alguém, para homens também, pois como se lê no post anterior, naquele caso a vítima foi um homem.

Neste novo caso, a vítima é mulher. E o uso, ou melhor, o abuso ao recurso da tecnologia para lhe infernizar a vida não encontrou limites. Imaginem tudo o que se pode fazer... Foi feito. Se calhar mais até do que a imaginação de algumas pessoas consegue atingir porque, felizmente, nem todos temos imaginações tão cruéis e obsessivas.


Esta mulher conheceu um homem. Até aqui tudo bem. Simpatizaram um com um outro de imediato. Ao terceiro encontro ela lá lhe disse onde morava porque, até então, foi cautelosa e não permitiu que ele soubesse a morada da sua casa, onde vive com a filha adolescente. Com a morada, ele lá conseguiu enviar-lhe as flores que tanto queria. A seguir surgiram outros presentes: chocolates, lingerie... Todo o final do dia ela chegava a casa e encontrava à porta um embrulho: era um presente dele para ela, com amor.

A relação entre os dois estava naquela fase fantástica, da descoberta, dos carinhos e um dia, ele presenteou-a com um iphone. Mas a mulher começou a sentir que a relação estava a avançar rápido demais e decidiu terminá-la.

Até aqui, tudo normal, certo?
Bom, excesso de presentes pode ser romântico ou pode indicar uma personalidade obsessiva que está a querer controlar tudo. E se assim for, como reage a pessoa quando rejeitada?

Bom, na realidade ela já está a agir desde o primeiro instante. Frustrado por não conseguir os seus intentos, este homem, tão generoso que tinha inclusive oferecido um iphone, na realidade deu-lhe um presente envenenado. Ele usava o iphone como aparelho de localização. Sabia sempre onde ela estava, com quem ela falava, lia todas as suas mensagens, escutava as suas conversas... aquilo era um aparelho de vigilância! 

Para se vingar ele pegou em todos os contactos de amigos e família que já tinha copiado do telemóvel e começou uma campanha de difamação indecorosa. Enviou mensagens a todos os amigos dizendo que ela tinha contraído doenças sexualmente transmissíveis, eliminando assim qualquer eventualidade de ela encontrar um outro parceiro rapidamente. 


Fez-se passar por ela para gerar conflitos, para isolá-la. Como ela recusou-se a recebê-lo de volta, não importava os argumentos, ele garantiu que ia destruí-la, ameaçando contar a todos os amigos, família e colegas de trabalho que ela era uma puta. Depois enviou a todos os que ela conhecia, sem deixar escapar um, um link de um site de acompanhantes femininas de luxo, no qual ela aparecia. As pessoas inicialmente acreditaram que haviam tropeçado num segredo oculto daquela mulher. Ele continuou, colocando anúncios de oferta de serviços sexuais dando como contacto o número de telefone do emprego dela. Os homens ligavam constantemente, a requisitar serviços da "Soraia".


Conseguem imaginar o terror que é estar a trabalhar num banco entre colegas, escutar o som de um telefone e sentir pavor de que possa ser outro homem a requisitar os seus serviços de prostituta? A vergonha de ter os colegas a olhar de lado e a desconfiar? As piadas, as mudanças de atitudes, o desprezo? Acabou por ser demitida. Foi aí que ela foi online verificar o que se passava. Sentiu-se totalmente roubada, difamada, violentada com o que encontrou.  

Com a quantidade de informação pessoal que hoje é mantida nos aparelhos tecnológicos, contas de email, etc, ele conseguiu cancelar-lhe o serviço de água, de electricidade, gás. Tudo fez para a prejudicar. Ela foi à polícia mas... esta não pode fazer muito sem provas. Ele tinha gravado secretamente um vídeo dos dois a fazer sexo e espalhou-o por toda a parte, começando, novamente, por aquela lista de contactos e fornecendo-o a vários sites pornográficos. Fazendo-se passar por ela, ele enviou mensagens aos amigos adolescentes da filha, oferecendo-se para prestar serviços sexuais. E mais tarde, ele incluiu o nome da menor no anúncio, deu a morada da casa das duas e a qualquer hora do dia ou da noite, homens apareciam-lhe em casa, tocavam-lhe à campainha para obter serviços sexuais. Noutra ocasião ele pegou numa faca e furou-lhe todos os pneus do carro. Aqui foi preso, em flagrante.

Foi então que se descobriu que ele era casado há muitos anos e tinha um filho menor de idade. Não era rico como dava a entender, e a esposa dele começou a receber as contas milionárias dos presentes oferecidos, das viagens em deslocações. Ainda por cima, ela é que "bancava", lol. Este perseguidor, perigoso e obsessivo, casado e com um filho, que aparentava ser normal e inofensivo, acabou sentenciado a sete anos de prisão, pelos crimes de roubo de identidade, perseguição e tentativa de extorsão. A mulher que ele perseguiu e a filha ainda têm de lidar com as consequências das mentiras que ele espalhou. E que a tecnologia ajudou a propagar.

Estes detalhes todos que escrevi servem para denunciar comportamentos perigosos para que possam ser detectados a tempo e para ilustrar o quanto a tecnologia pode ser usada como uma arma que faz tantos estragos quanto uma de verdade. 

Nada na vida desta mulher alguma vez voltou a ser seguro. E até hoje ela teme que ele, doente como é, a mande matar ou lhe faça algum mal, a ela ou à filha, ainda na prisão ou quando for posto em liberdade. E tem razões para isso. 


O que não faltam são histórias de mulheres assassinadas por ex-companheiros. Infelizmente vemos disso nas notícias. Vem-me à mente a esposa morta por seis tiros à porta do emprego, depois o ex ainda colocou um aparelho explosivo no corpo dela. Esta tragédia aconteceu depois do natal do ano passado, em Sacavém. Mas enquanto pesquisava para a confirmar os factos, encontrei com facilidade e horror tantos outros casos! Alguns de anos passados, outros infelizmente já datados deste ano. Uns cá, outros no Brasil, tão gratuitos e ousadamente cometidos em qualquer lugar diante de quaisquer testemunhas.Ver aqui, aqui, aqui, aqui



sexta-feira, 15 de abril de 2016

As tristezas e horrores de uma vida de abusos

Não somos racistas mas este tipo de emigração não se quer por cá. Assentam arraial aqui para receber o rendimento mínimo, não trabalham nem nunca pretenderam tal coisa, roubam e ainda fazem isto. Xô!

Ver reportagens antes de dormir? É melhor não....

Devia mesmo parar de assistir a reportagens horas antes de ir dormir. Termino de vê-las e sinto revolta! Tenho agora uma imensa vontade de expor o meu ponto de vista sobre determinados temas que acabaram de me enojar e preocupar. Mas o pensamento é mais rápido que a escrita e tudo o que me passou rapidamente pela cabeça e estava tão certeiro, agora, diluiu-se no cansaço e avançado da hora.

Sempre assisti a programas, principalmente sobre homicídios (resolvidos, que os não resolvidos produzem a mesma inquietação) mas nos últimos dias deixei os de crimes para trás e comecei a assistir na panóplia de ofertas no youtube, a reportagens de casos reais numa ampla diversidade de temas, sempre controversos. Muitos são revoltantes e quase que me tiram a fé na humanidade.


Aquele que mais quero vir aqui falar, deixo para outra ocasião. Mas é sobre um assunto muito importante que se vem a manifestar na nossa sociedade cada vez mais e é muito pouco falado. Mas posso escrever sobre outros que vi esta noite. Como por exemplo, leis impostas a crianças nas escolas. Para as «educar». Numa escola algures nos EUA (claro), as crianças estavam proibidas de fazer grafitis. Uma menina de 12 anos foi pega pela professora a rabiscar a carteira com um marcador não-permanente, a polícia foi chamada e prenderam a criança. Sim, presa! Com direito a algemas e escoltada algemada até a delegacia. Fica com cadastro criminal para o resto da vida, inclusive. Pode uma coisa destas?? 

Noutra escola, desta vez um infantário, uma outra menina que estava a fazer uma birra foi também presa. Noutra escola um menino de 8 anos disse que a professora era bonita. Foi preso sobe a acusação de assédio. (!!! LOL). E outros foram presos porque... arrotaram.

Eu até pensei que por instantes já não estava a viver no planeta Terra, mas em Marte ou algures fora da realidade... Será que os adultos ficaram tão incapazes de formar as mentes durante a infância que só lhes resta apelar à violência?
Foto retirada da internet

Se me contassem que isto aconteceu na Arábia Saudita, algures na África, na Sibéria... na Coreia do Norte... Opa, eu ainda que em choque, ia entender, porque existe uma percepção de vida bem diferente da chamada vida do «mundo liberal». Mas nos EUA? 

OMD!
Não posso mesmo continuar a assistir a documentários destes!

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Say it to my face - Diz-mo na cara!


Lembram-se de um post que fiz sobre o suicídio? A ideia que nele quis passar é que ninguém está inocente de responsabilidade. É ao mesmo tempo um acto de coragem e de cobardia, cuja derradeira responsabilidade cabe ao autor, mas cuja causa também pode e deve ser dividida por todos os que cruzaram vidas com ele.


Volto a este tema depois de ver uma série de casos impressionantes de injustiça, todos com situações trágicas e mesmo fatais. 
Preocupa-me muito para onde a sociedade está a evoluir. O que vejo preocupa-me. Ao invés de estarmos a caminhar para entendimentos e ausência de equívocos, parece que os alimentamos. 


O BOATO

Este é o tema que hoje quero abordar.
Fui apresentada às consequências dele muito cedo. Ainda era criança quando espalharam mentiras terríveis a meu respeito. Como eu soube? Não soube, Durante muito tempo só senti. As pessoas mudaram a atitude delas comigo. Eu chegava perto para conversar, para brincar, e elas afastavam-se. Outras vezes olhavam-me e começavam aos segredinhos. A minha vida nunca mais foi a mesma. Acabei por me retrair um pouco. Vim a saber do que se tratava um ano e pouco mais tarde, quando um grupo de crianças fez-me uma "espera" para me encher de insultos e ameaças. Nunca fui covarde, ainda hoje não sei bem o que isso é. Pelo que fiquei ali a tentar esclarecer a situação porque nem estava a entender de onde vinha tudo aquilo. Já havia notado animosidade, má vontade, implicação. Mas não existindo razões para isso, relevei e achei que era mau feitio. Nessa espera onde estava tão em desvantagem numérica, triunfei. Quem não tem o que temer não treme de medo. Ouvi muitos absurdos, escutei ofensas e palavrões que até desconhecia. Até que uma revelou que estavam ali para acertar contas comigo por eu as ter denunciado de terem feito batota num teste. E queriam vingar-se. "Quem disse tal coisa?" - perguntei. "Não vamos dizer porque ele (já sabia o género) pediu para não dizermos porque tem medo que lhe batas". "Eu?! Isso é mentira!" "Não é não, que ele nos disse que já lhe bateste!" "Então se é verdade, ele que o diga na minha cara, quero ver se tem coragem!". Não teve. Meteu a cauda ainda mais entre as pernas e fugiu. 

Depois a turma de «linchamento» dispersou e foi então que comecei a escutar o motivo... Parece que eu tinha o que hoje se chama de stalker. Um rapaz obcecado que, não conseguindo os seus intentos de obter a minha atenção total e absoluta, decorreu à difamação do carácter e alienação de oportunidades de relacionamentos de amizade. 
Foi um caso destes que vi agora, entre adultos, mas adaptado aos tempos modernos. Dou «graças a deus» por ao menos a minha experiência ocorrer tão cedo que ainda não existiam estas modernidades da internet para facilitar a vida a estas pessoas que, pelos vistos, já nascem doentes ou começam a manifestar a doença em jovem idade. 

No caso que vi, a vítima era um homem adulto, trabalhador, com dois filhos, separado e noivo de uma jovem. Estava a ser difamado num site na internet. O que ele sentiu foi as pessoas a ficarem estranhas com ele, começou a perder clientes até que foi demitido. Demitido depois de uma catástrofe pessoal: a noiva foi assassinada. Os boatos insinuavam que ele podia ter alguma coisa a ver com a morte dela. (que maldade!!). Contaram que era drogado, que já havia estado em várias clínicas de reabilitação, que era um tarado sexual. Isto não se faz! Ainda que alguma coisa menos grave fosse verdade, não é necessariamente motivo para descriminação. Mas as pessoas engolirem estas tretas sobre um indivíduo local que conhecem há anos e do qual não têm razão de queixa é que me desilude tremendamente. Vá que existem casos assim, de indivíduos aparentemente bons que se descobrem perigosos. Mas geralmente esses são exageradamente amados por muitos e silenciosamente mal vistos por poucos. O que condeno é que não tenha existido uma alminha que se dignificasse a revelar ao senhor o que se estava a passar. Ele só veio a descobrir por ter sido destratado pela família da noiva durante o funeral.

Acabou por ter de se mudar para outra cidade, com os filhos. Ficou provado que o assassinato foi cometido pelo ex-marido, provavelmente irritado por a ex estar a construir a vida ao lado de outra pessoa. Portanto, este homem estava a viver uma tragédia pessoal tremenda e a ser bombardeado por todos os lados. E não sabia porquê! Ninguém lhe contou nada. A ele, que nunca fez mal a ninguém. Quem lhe desejava tanto mal? Mas a internet deixa pegadas...E num momento em que estava deprimido a contemplar o suicídio, acabou por encontrar um homem das leis disposto a lutar por justiça. Sozinho, este justiceiro solitário que fala na cara das pessoas lá descobriu os sites, investigou, conseguiu um IP e localizou o difamador: uma mulher cujo nome nem dizia nada à vítima! A psicopata (porque era) não se demoveu. Ela tinha razão. Tudo mentira, mas ela é que estava certa. Inventou que ele roçou nela e era um pervertido. Mas cá para mim ela estava obcecada por um homem que nunca lhe olhou duas vezes. E o resto é doença mental e muita, muita malícia e cobardia.


Infelizmente ao longo da vida senti mais vezes este tipo de atitudes de exclusão e mudança de comportamento que este homem à beira do suicídio também sentiu. A última vez foi à coisa de dois anos. Senti pessoas a olhar de lado, a poupar nas palavras, a mudar a atitude, até mesmo quem não me conhecia de todo a fugir e a mandar indirectas. Isto aconteceu depois de me ver alvo de uma animosidade sem fundamento num grupo no facebook. O que fiz? Na primeira oportunidade perguntei o que se passava. "Ah, nada, nada. Foi um engano, já percebi". Pois. Mas engano ou não, eu não percebi nada, o mal estava feito e perpetuado. Até hoje não sei a razão de alguns desses comportamentos que pontualmente ocorreram. E tem alturas em que a imaginação corre solta. Tem dias em que a lembrança atormenta, corrói. A intuição diz muita coisa mas não prova nada. Fica o tormento, a tortura de não saber. 

As pessoas que espalham vis mentiras são criminosas e reles como indivíduos, mas aquelas que vão atrás e escolhem acreditar não são melhores. Defendo que devia existir uma lei que responsabilizasse estas pessoas que agem discriminadamente com base em boatos. Mas têm o quê? Doze anos??

Era essa a idade que tinha no caso que relatei e ainda assim existiram pessoas, poucas mas boas, que vieram ter comigo para me transmitir apoio e contar da obsessão daquele indivíduo. "Parecia doente", "Não se calava", "Só sabia dizer que se ia vingar de ti". Mas hoje? Hoje ninguém diz nada na cara da outra pessoa. A não ser para insultar, claro. De preferência em matilha, tal como na «espera»... Ninguém a avisa, a alerta para uma situação injusta. Calam-se. Em conivência silenciosa. Já não se procura o esclarecimento e, principalmente, ninguém se rectifica. No meu caso, um ano depois, uma delas teve coragem e, inesperadamente, pediu-me desculpa, disse-me que há muito que vinha a desejar fazê-lo, que se arrependeu e percebeu que não devia ter feito o que fez. Não acreditava em nada. Até hoje interpreto isso como uma atitude digna e necessária.

Se amanhã cometer suicídio, quem garante a estas pessoas que uma parcela do que me levou a fazê-lo não reside nestas suas atitudes? É aqui que quero chegar


Impune ninguém está. Por isso peço a quem me lê que não compactue com intentos maliciosos como os boatos... Não descrimine ninguém. Não vire a cara. Por mais que simpatize com a pessoa que lhe conta os «podres», desconfie sempre, dê o benefício da dúvida. Confronte o acusado, ele merece estar a par do que lhe está a ser feito. Todas as pessoas merecem ser escutadas antes de descriminadas por atos de fundamento distorcido, descontextualizado ou que estão longe de ter cometido ou de vir a cometer. Telefone ou entre em contacto com alguém a quem deixou passar essa oportunidade. É para isso que estamos nesta vida!

E já agora. atenção ao espalhar de boatos cibernéticos via partilha de informação e likes. Quase tudo é falso e tem um propósito malicioso.


Character Assassination = Crime

terça-feira, 12 de abril de 2016

2000 imbecis


Já tinha ouvido falar e até visto num programa sobre cirurgias estéticas falhadas no TLC o caso de uma mulher que decidiu fazer uma «tatuagem no olho», para mudar a cor. Mas não na parte branca dos olhos, como já existe por aí e se pode ver na ilustração acima. Na íris mesmo. De castanho quis passar a verde ou azul. Nem prestei atenção à cor pretendida, fiquei foi atenta ao como, quando, o quê aconteceu depois. 

Então a moça lá conseguiu um cirurgião num país do terceiro mundo (panamá, méxico) que lhe fez o procedimento. Toda feliz, os problemas não demoraram a surgir. Ficou cega. Gastou balúrdios para ser operada, depois teve de gastar mais ainda para reparar os erros. Mas acabou por conseguir reverter a situação, já que usou tinta (ou veneno) e não a despigmentação e, ao que parece, a tinta com o passar do tempo ia desaparecendo. 

Isto não é um exemplo de despigmentação da íris mas de implantação
de lentes de contacto em silicone dento da camada superficial do olho, 
entre a córnea e a íris. 
Lentes de contacto debaixo e não por cima do olho. Chiça!! 

Fiquei então apresentada a essa possibilidade. 
Nas notícias de hoje fiquei a saber que está em estudo um procedimento estético com esse mesmo objectivo. Desta vez não num país do terceiro mundo, mas nos EUA. Já fizeram umas experiências com voluntários inclusive. (provavelmente começaram em países do terceiro mundo, onde geralmente se vai para arranjar cobaias a valores acessíveis). Garantem que as pessoas com olhos castanhos vão poder ficar com os olhos azuis, porque o que fazem é despigmentar a íris. Não existem estudos a indicar para onde vai o pigmento, se acaba por congestionar um nervo e existe possibilidade de cegueira. Mas ao que tudo indica, depois da fase de estudos, é um procedimento que vai começar a ser aplicado. 

E eu pergunto: mas quem é que, tendo olhos castanhos, que proporcionam um olhar doce como o mel, vai querer ficar com olhos azuis, frios como pedra?

Exemplo de despigmentação da iris - dizem
(parece mais implantação de silicone)

Duas mil pessoas! Alegadamente, têm já 2000 inscritos. O que se formos a ver, é até um número reduzido. Não me levem a mal as pessoas que gostam de olhos azuis  - as que têm e as que gostariam de ter. Mas uma coisa que eles nunca serão capazes de inventar, pelo menos não tão depressa, é dar olhos castanhos a quem os tem azuis por meio de despigmentação :) 

Então, porque haveria alguém de desejar ter olhos na cor mais vulgar?


Pessoalmente, de todas as cores que existem, a que me menos me atrai é precisamente o azul. O azul nunca me fascinou. É um olhar com uma cor fria, tanta vez inexpressiva. Até agressiva, conforme o tom. Claro que cor é cor, não tem emoção, mas é o comportamento e a atitude de quem os usa que vai servir de indicativo. E nesse aspecto o que encontro em comum em muitas pessoas que naturalmente nasceram com olho azul, é uma vaidade exacerbada nisso, como se de facto acreditassem serem especiais. Soberba, arrogância e vaidade. Por vezes dá para associar estas características a determinadas pessoas que tiveram uma vida fácil e cresceram a ouvir os outros gabarem a cor de seus olhos. Acho que essas pessoas nem percebem o mal que fazem ao privilegiar uma característica física de pouca importância como essa, fazendo a outra julgar-se especial, sentir-se especial, como se merecesse trato privilegiado. E as que usam os olhos azuis para manipular os outros a fazerem-lhes as vontades? Acho que é porque lá na infância foram levadas a acreditar que isso surtia efeito!

Privilegiar uma criança por ter olhos azuis pode ser prejudicial ao seu crescimento 
Dentro da panóplia de cores naturais do olho, gosto muito de cinza - todos se esquecem dessa cor, ninguém a menciona. Para mim é a mais rara, nunca encontrei ninguém com olhos cinza. 

Um rosto com olhar cinza
Experimentei uma vez lentes de contacto coloridas. Escolhi o cinza, coloquei na retina com a prática de quem durante anos aplicou lentes de contacto para correcção de miopia e... uau! Adorei. Mas ao final de algumas horas elas causavam um certo cansaço, que as outras, feitas à medida da curvatura do meu olho, não causavam. Mas a principal desvantagem é que tapavam parcialmente a visão conforme a pupila dilatava na falta de exposição da luz. É que as lentes de contacto coloridas não têm pupilas móveis (que eu saiba porque nunca mais me informei a respeito), apenas um buraco central, que não se expande. Mesmo com muita luz do dia, parte da minha visão direita ficava ligeiramente tapada ao usar aquelas lentes padronizadas, porque cada olho tem a sua curvatura e formato. Mas digo-vos... O cinza nos meus olhos era a minha cara, ehehe.

Ainda que tenha gostado do resultado e ficado surpresa por me agradar tanto, acabei por usá-las pontualmente mais para mim que outra coisa e quando expiraram (duravam aproximadamente um mês) não tive mais curiosidade em experimentar outras. Nem as de padrões animais, às quais achei imensa piada! Mas era um risco, nunca se sabe se o olho vai reagir mal, ter uma alergia. Pelo que me dei satisfeita com aquela primeira experiência. 

Olhos castanhos tão escuros que parecem negros
Na altura decorria uma grande propaganda às lentes de contacto coloridas, notava-se que era um novo nicho de mercado no qual se estava a apostar em peso. Muito como as lojas de "compra de ouro", que vieram, invadiram e praticamente já se foram. Mas coloquei de lado as experiências e regressei ao meu castanho amado. De resto acho piada ao verde, ao «negro», muito comum nos asiáticos, que é um castanho tão escuro que se confunde com a iris, embora por vezes possam parecer estranhos e, claro, ao castanho, a minha cor favorita e com a qual fui abençoada de nascença. 

Olho com laivos esverdeados
No facebook costumo ver com regularidade pessoas que postam fotografias dos seus olhos, em grande plano. Olhos sempre castanhos. Mas não é por isso que estão lá, exibidos e fotografados. Não é o olho castanho que as pessoas querem exibir, mas a tonalidade esverdeada ou mais clara que o olho deixa passar. Pessoas com olhos castanhos claros podem muito bem, por vezes, parecer terem-nos verdes. E é nesse verde que se fixam. Recusam-se a admitir que têm olhos castanhos, dizem que os têm verdes escuros! Que paranóia. A quantidade de pessoas envaidecidas por isso, nossa senhora! Correm para o facebook a meterem na foto de perfil o seu olho. Mas como a foto é pequena e mal dá para perceber, o mais certo é publicarem também no mural. 

O que posso dizer? Eu acho feio. Acho aquele olho feio, acho a pessoa feia. Para mim é repelente. Pode até ser que a pessoa não seja vaidosa, não esteja a fazer o post para se exibir e colher comentários que lhe vão reforçar aquela vaidade. Enfim... o facebook a continuar a ser um local onde todos partilham tudo, é bem capaz que pessoas «normais», sem desejos de vaidades exibicionistas, decidam partilhar por lá o seu olho também... Mas até isso ser o mais comum, primeiro temos de atravessar por esta vaga de egos insuflados! :)


Desculpem lá qualquer coisinha...
Estou a escrever este texto de madrugada, vinda do post anterior e está quase a amanhecer :)

Abraços



O barómetro que é o Brasil



Devia-mos olhar para os problemas do Brasil com especial atenção. Acredito que tudo o que se passa lá, daqui a 20 anos vai ser o caso cá. 

Ao longo das décadas tenho verificado as semelhanças. Vejo telenovelas brasileiras, que mesmo sendo um produto para agradar as massas cheio de maravilhas, também estão cheias de referências sociais e políticas, acabando por servir de manifesto ou desabafo. 


A "crise" que nos atingiu aqui na europa dizem que no ano 2008, vivia-se lá intensamente 20 anos antes. Coisas como a dificuldade de uma pessoa honesta e bem formada em conseguir um emprego, as falcatruas, as ofertas de emprego que são vigarices, os favores "pagos", os subornos, os privilégios dos ricos... a impunidade dos poderosos ou criminosos, o desprezo à honestidade e o recurso ao oposto para subir na vida. 

Tudo isso vi acontecer por cá, 20 anos depois. Lembro em particular de tudo isto e mais ainda ser retratado (magistralmente) pela telenovela "Vale Tudo", feita exatamente 20 anos antes da data da «crise» na Europa, 

Portanto, é olhar para lá, com apreensão e com olhos de pupilo que precisa de aprender para não cometer os mesmos erros. O Brasil é um espelho para o futuro. Ainda que com diferenças, no final dos ovos partidos, o povo passa pelo mesmo. E tomara que quando e se isso acontecer, nós saibamos ser tão proativos e dignos quanto eles, povo brasileiro que clamam por justiça e honestidade!


domingo, 10 de abril de 2016

As redes sociais e a comunicação


O que se faz quando uma mãe/pai (ou o próprio) coloca no facebook uma fotografia da pulseira/agulha hospitalar do filho? 

"Se tem tempo e ânimo para tirar fotografias é porque está tudo bem" - é o que ainda penso.

Por mais que a minha personalidade reservada opte pela discrição, tenho de compreender que não somos todos iguais. Para mim ainda não faz muito sentido partilhar este tipo de situação no facebook! Mas isso sou eu. 

Não o uso como rede social. Mas há quem o use. E assim sendo, faz sentido que coloquem toda a sua vida lá. Que façam um relatório detalhado, regular, que não deixa passar nada, como se fosse uma rede de verdade, daquelas de pesca. É assim que escolheram comunicar-se com o mundo. Não me faz tanta confusão quanto pode parecer, embora o meu ADN não seja capaz disso. Preservo demasiado a intimidade para me expor dessa maneira no mundo global e nunca fui vaidosa ao ponto de necessitar da validação alheia - dois factores diferenciais.

Se antes tudo isto se fazia por telefone e antes disso pessoalmente, agora com um simples toque num objecto eletrónico de 10 cm sabe-se tudo, sem sair de casa. Não é preciso ir prestar apoio psicológico no hospital, não é preciso telefonar para saber detalhes. Convenhamos, essa parte era terrível, pois a cada pessoa que ligasse quem atende a chamada não pára de se repetir em explicações. Nesse aspecto o facebook ajuda e muito. Claro que, tudo piorou quando surgiram os telemoveis, porque até lá, para os que não sabem porque não viveram nesse tempo, os telefones eram fixos e era em casa que se atendiam chamadas. 

Hoje sabe-se tudo assim, pelo facebook. Quando existe uma festa, quem vai ao evento, como foi uma festa de aniversário e todas as idas aos hospitais... Até a morte chega ao facebook, missas de sétimo dia, "homenagens", etc. Só ainda não se chegou ao ponto de colocar uma foto do morto no mural do facebook! Estranhamente, isso não acho mal.. do ponto de vista do termino de um ciclo de vida. Não se ponham é a fazer poses e biquinhos de selfie, brrrr!

Se as coisas já são o que são no presente, imaginem no futuro. Deixo-vos aqui uma previsão do que será! Acho que está certeiro.



quinta-feira, 7 de abril de 2016

Vai uma cervejolas?

Encontrei este teste na internet. 

Por acaso sei quantas cervejas tomei na vida. Fiquei relutante em partilhar esta história aqui, porque no fundo ela revela a vida infeliz que tive, ao crescer sem estes vícios, ehehe! Álcool, cigarros e café... foram experimentados, mas diante da pouca atracção exercida, não me seduziram para o consumo regular. Por outro lado, se me perguntarem quantos copos de água já tomei acho que dava para encher um lago! Se isto faz com que pareça uma pessoa que gozou pouco a vida? Até que faz, num certo sentido. Sou a favor de que se prove de tudo um pouco, com moderação. Acho que se deve sair, ir a bares, conviver, dançar, beber... o que dificilmente não implica o consumo de alguma bebida alcoólica. Mas se a pessoa que entrar no bar não aprecia? Bebe outra coisa... sem álcool. Os donos de bares não têm interesses em receber não consumistas de álcool em seus estabelecimentos, claro está. E daí cada vez mais se aceitar esta cultura de álcool+noite. Ninguém deve consumir por pressão dos pares - algo que vi acontecer à minha volta.

Se num certo sentido esta falta de vícios me tornou numa pessoa um pouco à parte da nossa cultura social, por outro lado, os muçulmanos talvez me recebessem de braços abertos! (Ou com uma chuva de pedras, infelizmente nunca se sabe).

Mas a história da cerveja é esta: Há uns anos fui almoçar com uma colega de trabalho que estava a virar amiga. Nessa altura qualquer líquido que ingerisse parecia não ter gosto ou frescura. Não saciava. Era como não ingerir nada. Estava tanto calor e nem um gelado me caia bem. Apesar de ser mais adepta de água natural do que qualquer outra coisa, essa estranha sensação fez com que apelasse a mais sumos, de mais sabores, a coca-cola e a sprite. Não adiantou. Pensei que era uma fase e teria de esperar que passasse.

Vai então que estamos as duas no restaurante. E ela pede a sua bebida, um sumo qualquer e pergunta o que eu quero beber. Como estava a passar por uma falta de paladar e não costumo beber às refeições, quase não quis nada. Mas ela insistiu, não quis beber sozinha. Subitamente peço uma cerveja. Estavam por todo o lado nas mesas mas foi o que me apeteceu realmente. Surpresa, a colega afirma que julgava que eu não bebia álcool. Ao que respondi que não costumava beber, mas apeteceu-me experimentar. Trazem a comida, a bebida, vou bebericar a cerveja e esta sabe-me muito bem. Finalmente, algo que sabe bem. Continuamos a refeição, acabei por consumir toda a cerveja que me apeteceu - meio copo, fiquei satisfeita, a refeição caiu bem - e fomos embora.

A colega? Nunca mais quis nada comigo. Escandalizou-se com a metade da cerveja tomada.


Esta sociedade é muito lixada. É que não sou de grandes preconceitos. Pelo menos assim julgo ser (fui abençoada à nascença). Nem para com quem bebe nem para com quem deixa de beber. E verifico que isso é raro. Há os que não bebem e condenam os que o fazem, e os que bebem e vivem a tentar fazer os outros beber para saberem o que estão a perder. Se somos livres, fazemos as nossas escolhas, não? Critico se achar que devo, mas deixo cada qual ser tão livre e responsável pelas suas escolhas quanto eu acho que sei ser. 

E o teste, o que veio a dizer? Que bebi 1411 cervejas ao longo da vida ehehe! Só se estiver a contar com outras encarnações e as poucas vezes em que uso uma em temperos e cozinhados :) :) Ou melhor. Ainda tenho pela frente 1410 cervejas para consumir, ahaha..


Ah, e já agora, este teste informa-me que vou morrer em 2050. Mais 34 anos de vida pela frente.... Para beber o resto das cervejas :)

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Considerações Soltas (2) - SPAM

Ah, o Spam! Aquele maravilhoso comentário que não tem nada a ver com coisa alguma. Recebi o primeiro. Yuppi!! 

Aqui está ele, publicado na mensagem de ontem "portuguesinha sou...". Devia conter palavras-chave como PORTUGAL, ao qual o Spam reagiu enviando uma mensagem automática. Não ligo nenhuma a estas coisas mas jamais por link direto, achei por bem partilhar o que é que me apareceu na caixa de comentários. E olhem a parvoíce!


Se isto for consequência de ter inscrito este blogue num site com contagem fictícia aqui visível no lado direito, removo já, já. Dá para denunciar blogues? Avisar o governo de difamação à nação soberana? É que nem é uma página na internet, apenas blogues, com domínio no Canadá :)




Considerações Soltas (1) - Alegadamente

ALEGADAMENTE

Zapping, canal SicCaras, Passadeira Vermelha, nota de rodapé: "Há 3 anos José Castelo Branco serviu 160 dias de serviço público por alegadamente ter agredido uma empregada"

Na realidade a sentença do tribunal foi monetária. O réu é que alegou falência e por isso a pena foi comutada para 160 dias de serviço público - do qual ponho as mãos no fogo em como não terá cumprido um grão de areia. E eu pergunto: Se o tribunal atribui uma pena é porque ficou provada a culpa, não há nada de "alegadamente" nisto!

As TVs, Cor-de-Rosas e os seus paninhos quentes...

terça-feira, 5 de abril de 2016

Portuguesinha sou e faço questão de ser

Quando fui ao Porto fiquei hospedada numa pousada(?) dirigida por uma senhora simpática, que tinha na voz uma entoação que achei curiosa. Por isso perguntei-lhe se era ali da zona. Não nasceu em Portugal. Não recordo agora o país onde disse ter nascido, mas sei que já vivia neste há uns 40.

Horas depois oiço a porta do quarto frente àquele no qual estava, abrir para um novo hóspede, ali conduzido pela mesma senhora afável. Ela pergunta-lhe o mesmo que perguntou a mim, desta forma: "O senhor vem de Lisboa?". E ele responde:

-"Sim venho de Lisboa, vivo lá"."Mas sou aqui do Porto! É daqui que eu sou".

-"Ah" - diz a senhora. "Não é por nada mas isto aqui é melhor que lá em baixo".

E depois ficam ali numa alongada troca de ideias, não maliciosas, sobre a forma de receber e de estar do Porto e as de lá "de baixo", concluindo que eles ali sabiam receber melhor e em Lisboa as pessoas eram «diferentes». 

Achei curioso "tropeçar" assim do nada com esta muita falada «rivalidade» entre um ponto do país e outro. Nem sei se posso chamar-lhe assim, mas fui um nadita de nada exposta à superfície dessas ideias. 

Antes de partir, entrei num café franchising e dirigi-me para a caixa, onde duas mulheres estavam a ser atendidas na compra de uns bolos de aniversário. Existiam também duas empregadas atrás do balcão. As duas clientes estavam a terminar de ser atendidas e quando vejo a segunda funcionária dirigir-se para a frente do balcão diversificado em bolos, salgados e sandes, vou para lhe falar: "Bom dia, queria...." mas esta dirige-se às duas mulheres que já estavam a ser atendidas. Que ficaram atrapalhadas. E assim foi informada pela colega:
-"Já estou a atender estas senhoras".

Naturalmente deduzo que vai virar-se para mim, ali ao lado das clientes. Mas sai do balcão e ignora-me. Não acho normal mas não dou importância. Fico a torcer para ser atendida pela empregada que parece ter paciência e simpatia para as conhecidas clientes dos bolos de anos. Entra mais alguém no café e fica atrás de mim. A empregada fujona regressa e dispara: 
-"Quem está a seguir?" - e sem sequer me olhar na cara, olhando por cima da minha cabeça mas sabendo que eu estou ali à alguns minutos porque não é cega, vira-se para a mulher atrás de mim e começa a atendê-la.

Achei rude, mas descartei a hipótese de qualquer má intenção. Talvez tivesse num mau dia. Talvez até fosse uma distracção ou estivesse de implicância com a outra colega. E ali fiquei «pendurada», agora realmente à espera que as clientes indecisas do bolo de aniversário se despachassem para poder pedir o meu hamburger. Ao menos a rapariga que as atendia parecia cordial e paciente. As indecisas não se despacham mas a funcionária que me ignorou sim. Empata-se mais um bocadinho de costas para o balcão até que ao virar-se para a frente, comunico-lhe:

"Bom dia, quanto custa o hamburguer?
- "Tudo um euro. O que é que quer?" 
-"Quero um hamburguer" - digo com simpatia. Depois acrescento uma observação qualquer a respeito de me sentir melhor comendo isso a bolos, que tinham bom aspeto, ou algo assim do género e estava a ser simpática. Mas a jovem rapariga atrás do balcão continuou uma pedra de gelo que nem contacto visual fez comigo.

Agradeço-lhe novamente. -"Obrigada". Não me responde e vira a cara, o corpo, para fazer outra coisa qualquer. Tinha pago o hamburguer, agarrei-o da bancada onde foi colocado com alguma brusquidão dentro do saco de papel que pedi "para levar", mas acabei por sentar-me numa mesa para o degustar tranquilamente. Estava a chover a potes lá fora!!


Sento-me e logo reparo numa mesa vazia, só com chávenas de café sujas, com um lenço de senhora em cima da cadeira. E penso: "Alguém deve ter-se esquecido disto aqui". "Se avisar uma empregada, pode ser que a pessoa ainda esteja aqui e o recupere". E vai que tento chamar a rapariga, a mesma que me «atendeu», que está agora a passar um pano no tampo de algumas mesas. "Olhe, desculpe... " "Se faz favor..." - Nada. Continua com o mesmo problema de audição que demonstrou ter de início.

Insisto: "Desculpe, acho que alguém esqueceu aqui este lenço". Ela olha pela primeira vez nos meus olhos, mas não diz nada e vira-se para o lenço. Algo realmente frio e aparentemente intencionalmente discriminatório emana do atendimento desta rapariga. Ela avança para puxar o lenço da cadeira - sem nada me dizer mas aí um rapaz diz que o lenço lhe pertence. Ora, eu já havia reparado no rapaz, sozinho sentado noutra mesa. Pareceu estar ali a observar os outros ou a fazer tempo, sem propósito e sem consumo. Até me ocorreu que, se não dissesse que o lenço estava ali este podia levá-lo, pois parecia agir algo estranho. Um lenço feminino pertencente a um homem? Jamais me ocorreria tal coisa, mas tudo bem e, com simpatia, olhei para o homem e disse:
-"Ah, desculpe, como não vi ninguém aqui pensei que tinha sido esquecido".

E não dei muita mais conversa, limitei-me a, finalmente, começar a saborear o meu hamburguer com tranquilidade e em sossego. Não era um bom hamburguer - longe disso, mas deu para encher o estômago.

Depois saí. Mas devido à chuva, ainda me alonguei na porta, que tinha uma área pequena e isolada. Ajeitei bem as coisas que carregava, cobrir-me com o capuz e fechei bem o impermeável. 


Estava quase para voltar para dentro porque ocorreu-me comprar algo para consumir durante a longa viagem de regresso. Mas ao virar-me para o interior, subitamente senti que não era bem vinda ali. Que me queriam na rua. Senti-me mal atendida. E arrependi-me de não ter dito à rapariga: "Desculpe, eu estou aqui" quando me ignorou e se virou para clientes que já sabia estarem a receber atendimento. Ou ter-lhe dito "Olhe que sorrir não dói" quando lhe estava a ser cordial e mostrou-se antipática.  


Conclui que este tipo de pessoas não se limitam a sugar as boas energias, são também venenosas. Caso contrário não estaria um ano depois, a lembrar-me dela. O melhor a fazer é chamar logo a atenção da pessoa. Se existir confronto, uma troca infeliz de palavras, deve ser melhor do que sentir a má vontade e nada dizer. O veneno que estas pessoas emanam acaba por contaminar. 

Se for verdade que o povo do Porto é mais simpático no atendimento, esta rapariga deitou tudo por terra. E foi com esta última impressão que abandonei a cidade. Posso dizer que a senhora da pousada foi simpática, mas também tinha esse interesse, né? Simpatia sem interesse, só o de uma jovem caixa de supermercado, que prestou um atendimento sorridente, atencioso e bem disposto. Saí dali a desejar muita sorte e fortuna àquela jovem rapariga simpática e que estava a esperar um filho.


E nestas recordações comecei a refletir nisto de se insistir em separar e avaliar o carácter das pessoas pela região... Algo que abomino. Já me senti descriminada por ser de Lisboa. Quando fui estudar fora da cidade. Uns foram antipáticos sem motivo, outros simpáticos, ambos com ideias préconcebidas das «boas» oportunidades de vida em Lisboa. Passados todos estes anos posso dizer que foi legítimo, existiu realmente uma discriminação. Que me apanhou de surpresa, que me apresentou a algo que desconhecia, por não praticar: o preconceito. 

Gosto de pessoas porém sou algo distraída, nessa distracção incluo regionalismos e sotaques. Posso estar a falar com alguém e não dar conta, não identificar nada de diferente. Meu avô nasceu no Porto. Aliás, praticamente toda a família veio do Norte. Sempre o ouvi falar comigo aqui em Lisboa e nunca achei o seu falar diferente do meu falar. Ele dizia bassoura e eu dizia vassoura. Só isso. Talvez tenha percebido melhor o quanto gostava da forma como falava e porquê, depois que se foi. Porque ficou a saudade. Cada vez que oiço alguém falar igual a ele, e digo isto não só nas palavras, mas no jeito de se expressar, na construção de ideias, o meu coração enche-se de carinho. 

E foi assim que me emocionei com o testemunho ocular de um senhor na televisão, aquando um tiroteio num hostel no Porto, em Janeiro. Ai Jesus, que ele a falar parecia tal e qual o meu avô! Nem todos parecem mas há algo na educação que uma certa geração recebeu que ficou-lhes nas palavras, nos gestos, na entoação, e me é familiar.

Meu avô jamais teria entrado naquele café, sentido o que eu senti e deixar a coisa ficar como ficaram. Ia dar uma lição de humildade e boa educação ao mal educado que não soubesse fazer o seu trabalho. Era bem capaz de dizer umas curtas verdades, deixar o outro encurralado sem argumentos e dizer: "Não bolto mais aqui!".

Fiquei a pensar na senhora da hospedaria, que se sentia tão pertencente àquela cidade, porém tinha todas as suas raízes num outro país. Do rapaz que vivia e trabalhava em Lisboa mas que fez questão de se diferenciar como nascido ali. E eu... que conheci pouco sem ser esta cidade onde nasci (e mal, ainda por cima) e no entanto tenho todas as raízes no Porto, em Viseu, em Castelo Branco, Amarante... locais onde os meus viveram por anos e cuja genética carrego. Mais que Lisboeta, Portista, o que for, sinto-me portuguesa. Sinto-me portuguesinha - só mais uma entre muitos.