sexta-feira, 24 de junho de 2016

Celebridades e seus efeitos no tempo

A capa da revista televisiva do CM:


Esperavam um microfone, não é? Independentemente da reputação que conferem a este media da Cofina, o grupo também tem coisas que se aproveitam. Esta entrevista é um exemplo disso.

Acreditem se quiserem mas andei nestes dias a reflectir nisto. E tenho que dizer: concordo plenamente com esta citação


Ao ver programas sobre as "grandes estrelas" do passado - constato que muitas cairam no esquecimento. Os seus nomes podem até soar a algo familiar, mas os seus feitos - aquilo pelo qual se tornaram famosos, acabam desconhecidos. Com o tempo, conhece-se um ou outro em particular, o que é totalmente redutor perante o panorama real do que foram essas conquistas no tempo em que ocorreram. 


Muitas das estrelas do cinema mudo, por exemplo, ou do cinema musical, se achavam a 5ª essência do mundo artístico. Estavam certas que deixariam uma marca na história do seu metier. Mas quem é que hoje conhece nomes como Jeanette MacDonald, Nelson Eddy, Jane Powell? E estes que atingiram estatuto de estrelas da dança e da música, tiveram muitos outros que os antecederam. Esses ainda mais perdidos na memória.

Porque é disso que se trata: memória. E esta só é razoavelmente boa durante uma a duas gerações. Depois vai sumindo, vira nevoeiro. 


Daqui a mais umas gerações, quem é que saberá ao certo porquê Amália, Eusébio são conhecidos? Elizabeth Taylor, Geen Kelly? E isto só ficando no patamar dos artistas mais conhecidos. Ficam de fora grandiosos de outras profissões não artísticas: médicos, políticos, filósofos, futebolistas, automobilistas, cientistas... Quem se lembrará porque é que o Marquês de Pombal é famoso, quando muitos nem sequer lhe conhecem o nome, só o título? Sim, sabem uma ou outra coisa cuja autoria lhe é atribuída. Mas e tudo o resto que também faz parte de uma pessoa? Família, inclinações políticas, prazeres... coisas que, não tão poucas vezes, ficam de fora dos livros de história? 

Por isto esta citação de João Perry chamou a atenção. A primeira parte "Não quero ser recordado" parece-me óbvia. A segunda, ainda mais: "nunca saberão quem fui!".

Sim, porque mesmo quem é idolatrado por multidões, muitas das vezes não o é por o que é, mas pelo que fez ou faz. Como idolatrar um ator, quando tão pouco se sabe sobre a pessoa? Pode-se gostar dos seus trabalhos, sentir alguma afinidade com algumas ideias, nem tanto com outras... Mas não se conhece uma pessoa assim. Portanto, ao ser "recordado", não está a o ser. 

E recordado para quê?

Por cá, todos os nossos "grandes" artistas homenageados com o seu nome em teatros ou ruas acabam por cair no esquecimento. Teatros então, alguns são uma tristeza de abandono... Cada vez que passava por um que ainda tinha as letras a dizer "Teatro Vasco Santana" fico a pensar na real importância que damos à sua pessoa como artista, para permitir que algo em sua homenagem não passe de escombros.


Temos o "Maria Matos", um nome vagamente recordado mas cujos feitos da artista cairam no esquecimento. Existiu a Laura Alves, que poucos conhecem hoje em dia. Perguntem aos jovens se sabem quem ela foi. E muitos outros, alguns que ainda andam por cá. Então concluo que ninguém, por melhor que seja, será eternamente recordado.

Ser recordado parece ser "empacotado" num rótulo onde muitos dos «ingredientes» ficam de fora. Uma pessoa é tão mais que isso.

1 comentário:

  1. Uma excelente reflexão. Os tempos passam muito depressa, e as pessoas perdem-se entre tantas solicitações que só os historiadores deixarão uma parte da história para os vindouros e mesmo essa muito subjectiva pois sempre sai deturpada, ou por interesse de quem lhes paga, ou por opinião própria, pois todos sabemos que o mesmo facto observado por várias pessoas, terá tantas versões quanto os observadores.
    Um abraço

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